Page 623 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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– Que Aslam abençoe o nosso bom paulama – disse o príncipe. –
                  Estivemos sonhando. Como iríamos esquecer? Todos nós já vimos o Sol.

                         – É claro que sim! – gritou Eustáquio. – Muito bem, Brejeiro. Você é
                  o único aqui que não perdeu o juízo.

                         E mais uma vez se ouviu a voz da feiticeira arrulhando como uma
                  pomba-rola  no alto da árvore  de um  velho  quintal,  às três horas de uma
                  sonolenta tarde de verão:

                         –  De  que  sol  vocês  estão  falando?  Essa  palavra  significa  alguma
                  coisa?
                         – Significa muito! – respondeu Eustáquio.

                         – Poderiam contar-me como é o sol? (Drum-drim-drum.)

                         – Por obséquio, Majestade – disse o príncipe, com fria polidez. – Vê
                  aquela lâmpada redonda e amarela iluminando a sala? O que chamamos Sol
                  é parecido, só que é muito maior e muito mais brilhante e ilumina todo o
                  Mundo de Cima. E em vez de estar preso no teto, está solto no céu.

                         – Solto onde? – E enquanto pensavam na resposta, ela prosseguiu,
                  com  uma  de  suas  risadinhas  melodiosas:  –  Estão  vendo?  Quando  vocês
                  procuram saber o que deve ser realmente o tal de sol, não conseguem. Só
                  sabem dizer que parece uma lâmpada. O sol de vocês é um sonho, e não há
                  nesse sonho nada que não tenha sido copiado de uma lâmpada. A lâmpada
                  é real; o sol não passa de uma invenção, uma história para crianças.

                         –  Ah,  sim,  é  verdade  –  disse  Jill  com  uma  voz  pesada  e  sem
                  esperança. – Deve ser isso mesmo. – E acreditava que estava sendo muito
                  sensata.
                         Lenta,  gravemente,  a  feiticeira  repetia:  “Não  há  Sol.”  E  eles  nada
                  mais diziam. “Não há Sol” – ela repetia, com a voz mais branda e profunda.
                  Depois de uma pausa e de um conflito em seus espíritos, todos os quatro
                  disseram: “Certo. Não há Sol.” Era um alívio desistir e reconhecer que o
                  Sol nunca existira.

                         Nos últimos minutinhos Jill sentira que havia alguma coisa da qual, a
                  todo  custo,  tinha  de  se  lembrar.  E  agora  conseguia.  Era  entretanto
                  tremendamente difícil dizê-la. Sentia como se enormes fardos pesassem em
                  sua boca. Por fim, com um esforço que pareceu exauri-la, disse:

                         – Aslam existe.

                         – Aslam? – disse a feiticeira, apressando ligeiramente o repenicado
                  de seu instrumento. – Que lindo nome! Que significa Aslam?

                         – Aslam é o grande Leão que nos chamou de nosso mundo – disse
                  Eustáquio – e aqui nos enviou em busca do príncipe Rilian.
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