Page 620 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
P. 620

12


                                                     A RAINHA DO SUBMUNDO






                         Dois terrícolas surgiram, mas não entraram na sala; postaram-se nos
                  lados da porta e fizeram uma grande reverência. Foram seguidos logo pela
                  última  pessoa  que  os  quatro  esperavam  ou  desejavam  ver:  a  Dama  do
                  Vestido  Verde.  A  rainha  do  Submundo  estacou  imobilizada  no  portal.
                  Podiam ver seus olhos se movimentando enquanto ela se inteirava de toda a
                  situação:  os  três  estranhos,  a  cadeira  de  prata  em  frangalhos,  o  príncipe
                  solto, de espada em punho.

                         Ficou branquíssima, de um branco (pensou Jill) que sobe à face de
                  certas  pessoas,  não  quando  estão  com  medo,  mas  quando  estão  furiosas.
                  Por  um  instante  fixou  os  olhos  no  príncipe,  olhos  de  quem  vai  matar.
                  Depois pareceu mudar de idéia.

                         – Saiam – ordenou aos terrícolas. – Não quero ser perturbada até que
                  eu chame, sob pena de morte.
                         Os gnomos saíram com suas passadas fofas e a rainha-bruxa trancou
                  a porta.

                         – Como está, meu príncipe? Seu acesso noturno ainda não veio, ou
                  será que passou depressa? Por que está aí desamarrado? Quem são estes
                  estrangeiros? Foram eles que destruíram sua cadeira, a sua única salvação?

                         O príncipe Rilian estremeceu. E não é de se admirar, pois não é fácil
                  libertar-se em meia hora de um sortilégio que nos escravizou durante dez
                  anos. Falando com grande esforço, disse ele:

                         – Senhora, não há mais necessidade desta cadeira. E a senhora, que
                  me  falou  cem  vezes  sobre  a  compaixão  que  sentia  por  mim,  vítima  de
                  horrendas feitiçarias, saberá com alegria que estas acabaram para sempre.
                  Houve, parece, certo erro na sua maneira de tratá-las. Estes, meus amigos
                  sinceros, libertaram-me. Agora, em perfeitas condições de juízo, há duas
                  coisas que gostaria de dizer-lhe. Primeiro: quanto ao seu desejo de enviar-
                  me à frente de um exército para submeter o Mundo de Cima pelas armas e
                  coroar-me rei de uma nação que jamais me fez o menor mal, assassinando
                  seus chefes e derrocando o trono como um tirano sanguinário, agora que
                  sou eu mesmo, devo declarar que me repugna completamente tal vilania.
                  Segundo: sou filho do rei de Nárnia, Rilian, o filho único de Caspian X, e
                  que  alguns  chamam  de  Caspian,  o  Navegador.  Assim  sendo,  senhora,  é
   615   616   617   618   619   620   621   622   623   624   625