Page 618 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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Devia ser uma excelente espada. A prata cedeu a seu gume, e num
                  momento só uns fragmentos brilhantes da cadeira restavam no chão. Mas,
                  ao  ser  destroçada,  a  cadeira  soltou  um  clarão,  trovejando;  um  cheiro
                  nauseabundo percorreu a sala.

                         – Fique aí, imundo instrumento de feitiçaria — disse ele –, para que
                  jamais sirva ao tormento de outra vítima.

                         Observou  então  seus  salvadores;  o  que  havia  de  errado  na  sua
                  expressão, fosse o que fosse, desaparecera.

                         –  Não  me  diga!  –  bradou,  ao  dar  com  Brejeiro.  –  Será  que  estou
                  vendo  na  minha  frente  um  paula-ma...  um  paulama  de  verdade,  um
                  narniano?
                         – Ah, enfim já ouviu falar de Nárnia?! – disse Jill.

                         – Tinha me esquecido quando enfeitiçado. Bem, agora esta e outras
                  artes do diabo chegaram ao fim. Conheço bem Nárnia, estejam bem certos,
                  pois sou Rilian, príncipe de Nárnia, filho de Caspian, o Grande.

                         –  Real  Alteza  –  murmurou  Brejeiro,  vergando  um  joelho  (e  as
                  crianças o imitaram) –, aqui viemos apenas para buscá-lo.

                         – E quem são os outros dois libertadores? – perguntou o príncipe,
                  voltando-se para Eustáquio e Jill.

                         – Fomos enviados por Aslam de além do fim do mundo para que o
                  encontrássemos, Alteza – respondeu Eustáquio. – Meu nome é Eustáquio.
                  Viajei com seu pai até a Ilha de Ramandu.
                         –  Tenho  para  com  os  três  uma  dívida  que  jamais  poderei  pagar  –
                  disse o príncipe. – Mas... meu pai... ainda está vivo?

                         – Viajou para o Oriente antes que deixássemos Nárnia, meu senhor –
                  informou  Brejeiro.  –  Mas  Vossa  Alteza  deve  considerar  que  o  rei  está
                  muito idoso. Tem uma possibilidade em dez de sobreviver à viagem.

                         – Está velho, diz você. Por quanto tempo então estive sob o poder da
                  bruxa?

                         – Há mais de dez anos que Vossa Alteza se perdeu na floresta ao
                  norte de Nárnia.
                         – Dez anos! – exclamou o príncipe, levando a mão ao rosto como se
                  quisesse  limpar-se  do  tempo.  –  Acredito.  Pois  agora  que  sou  eu  mesmo
                  posso  me  lembrar  de  minha  existência  encantada,  embora  não  pudesse
                  saber quem eu era quando vivia sob a maldição. E agora, meus amigos...
                  um momento! Ouço as passadas deles nos degraus. Não é de enlouquecer

                  essa pisada de novelo de lã? Feche a porta, rapaz. Não, espere. Tenho uma
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