Page 616 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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– Depressa! Estou bem agora. Todas as noites é assim. Se pudesse
                  livrar-me desta cadeira, continuaria bem para sempre. Seria outra vez um
                  homem.  Todas  as  noites  eles  me  amarram,  e  todas  as  noites  a  minha
                  esperança se desfaz. Mas vocês não são inimigos. Não sou prisioneiro de
                  vocês. Depressa! Cortem as amarras.

                         – Não se mexam! – comandou Brejeiro.

                         –  Imploro  que  me  ouçam  –  disse  o  cavaleiro,  esforçando-se  para
                  falar  com  serenidade.  –  Disseram  que  se  eu  me  libertar  da  cadeira  iria
                  matá-los e virar uma serpente? Pela expressão de vocês, foi o que disseram.
                  É  mentira!  Agora,  neste  momento,  é  que  estou  em  minhas  condições
                  normais:  durante  o  resto  do  tempo  vivo  enfeitiçado.  Vocês  não  são
                  terrícolas, nem a menina é uma feiticeira. Vão ficar do lado deles? Cortem
                  as amarras, por obséquio.

                         – Não se mexam! Não se mexam! – disseram os três.
                         –  Corações  de  pedra  –  disse  o  cavaleiro.  –  Acreditem  em  mim:
                  contemplam um desgraçado que já sofreu mais do que um mortal poderia
                  suportar. Que mal lhes fiz? Por que ajudam o inimigo a manter-me nesta
                  infelicidade? Os minutos correm. Agora poderão salvar-me. Terminada a
                  hora,  ficarei  novamente  sem  juízo...  voltarei  a  ser  o  brinquedo,  o
                  cachorrinho,  o  instrumento  de  uma  diabólica  feiticeira  que  planeja  a
                  desgraça dos humanos. E logo hoje, que ela não está, vocês me privam de
                  uma chance que poderá jamais reaparecer!

                         –  Isso  é  de  matar!  Teria  sido  melhor  se  a  gente  tivesse  ficado  lá
                  dentro até que terminasse o acesso – disse Jill.

                         O prisioneiro começou a esganiçar.

                         –  Soltem-me!  Quero  a  minha  espada!  Minha  espada!  Durante  mil
                  anos os terrícolas se lembrarão da minha vingança!

                         – O delírio está começando – disse Eustáquio. – Espero que estes nós
                  agüentem o repuxo.
                         – Pois é – disse Brejeiro. – Vai ficar com a força duplicada. E eu não
                  sou muito bom na espada. Ele vai nos liquidar primeiro e Jill ficará para
                  enfrentar a serpente.

                         O prisioneiro estava tão tenso que as amarras lhe cortavam os pulsos
                  e tornozelos.

                         – Cuidado! – disse ele. – Cuidado! Uma noite parti as amarras. Mas a
                  feiticeira estava aqui. Livrem-me agora, e serei seu amigo. Do contrário,
                  serei um inimigo mortal.

                         – Esperto, hein? – falou Brejeiro.
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