Page 628 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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Então vieram estrépitos e roncos. Agora parecia haver vozes e também um
                  bramido que não era de vozes.

                         –  Pelo  Leão  –  disse  o  príncipe  Rilian  –,  parece  que  esta  terra
                  silenciosa aprendeu finalmente a falar. – Foi à janela e afastou as cortinas.
                  Os outros juntaram-se em torno.

                         Um  grande  clarão  vermelho  foi  a  primeira  coisa  que  notaram.  O
                  reflexo produziu uma  mancha rubra no teto do Submundo a centenas de
                  metros  acima  deles,  e  assim  puderam  ver  um  teto  rochoso  que  talvez
                  estivesse oculto nas trevas desde que o mundo fora criado. O clarão vinha
                  do lado mais distante da cidade, de modo que muitos prédios, imponentes e
                  sinistros, estampavam-se sombrios. Mas o clarão também iluminava muitas
                  ruas que se dirigiam para o castelo. Nessas ruas algo de muito estranho se
                  passava.  As  multidões  compactas  de  terrícolas  tinham  sumido.  No  lugar
                  delas, figuras disparavam de um lado para outro, sós ou em grupos de duas
                  ou  três.  Comportavam-se  como  pessoas  que  não  desejavam  ser  vistas:
                  emboscando-se  na  sombra  de  colunas  ou  portais  e  lançando-se  depois,
                  rapidamente, em novos esconderijos. O mais estranho de tudo, para quem
                  conhece os gnomos, era o barulho. Gritos vinham de todas as direções. Do
                  cais chegava um bramido surdo que foi crescendo a ponto de quase fazer
                  estremecer toda a cidade.

                         – O que está acontecendo? – perguntou Eustáquio. – Estão mesmo
                  berrando?
                         – Não creio – respondeu o príncipe. – Nunca ouvi nenhum desses
                  salafrários  ao  menos  erguer  um  pouco  a  voz  em  todos  esses  anos  de
                  cativeiro. Alguma novidade diabólica, não pode haver dúvida.

                         – E aquela luz vermelha lá em cima? – perguntou Jill. – Será que
                  alguma coisa está pegando fogo?

                         – Se você me perguntasse – interveio Brejeiro – eu diria que é o fogo
                  central da terra irrompendo para produzir um novo vulcão. Estaremos bem
                  na boca, é claro.

                         –  Vejam  aquele  barco!  –  disse  Eustáquio.  –  Por  que  vem  tão
                  depressa? E não tem remador!

                         – Olhem, olhem! – bradou o príncipe. – O barco está em cima da
                  rua!  Olhem  lá!  Todos  os  barcos  estão  entrando  pela  cidade.  O  mar  está
                  subindo. Este castelo, louvado seja Aslam, está bem no alto, mas as águas
                  estão subindo terrivelmente depressa.
                         – Que diabo pode estar acontecendo? – perguntou Jill. – Fogo e água
                  e aquela gente esquivando-se pelas ruas.

                         – Vou dizer-lhes o que se passa – disse Brejeiro.
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