Page 629 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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– A feiticeira lançou eflúvios mágicos para que o seu reino fosse
destroçado depois de sua morte. Não se importava muito de morrer, desde
que também morresse queimado, ou enterrado, ou afogado, aquele que a
matasse.
– Acertou no alvo, meu amigo – disse o príncipe. – Quando nossas
espadas deceparam a cabeça da feiticeira, os golpes puseram fim ao seu
poder de magia: as Terras Profundas estão se arrastando. Estamos
assistindo ao fim do Submundo.
– Exatamente, Alteza – falou Brejeiro. – A não ser que seja o fim de
todos os mundos.
– Espere aí, gente: vamos ficar aqui... aguardando? – perguntou Jill.
– Não por mim – respondeu o príncipe. – Vou salvar meu cavalo e o
da feiticeira (um nobre animal, que merecia um dono melhor); estão no
está-bulo do pátio. Depois vamos procurar uma terra mais alta e torcer para
encontrar uma saída. Cada cavalo poderá levar dois; creio que conseguirão
atravessar a correnteza.
– Por que Vossa Alteza não coloca a armadura? – perguntou
Brejeiro. – Não gosto do jeito daqueles ali – e apontou para a rua. Dezenas
de criaturas (percebiam agora que se tratava de terrícolas) vinham do caís.
Mas não caminhavam como uma multidão sem objetivo. Agiam como
soldados de uma tropa de assalto, ocultando-se depois de cada corrida,
procurando não ser vistos das janelas do castelo.
– Não tenho coragem de meter-me outra vez dentro daquela
armadura – disse o príncipe. – Cavalguei naquilo como se estivesse dentro
de um calabouço ambulante; aquilo cheira mal, a magia e escravidão. Mas
pegarei o meu escudo.
Deixou a sala e voltou com um estranho brilho nos olhos:
– Vejam só, meus amigos – e exibiu o escudo para eles. – Há uma
hora este escudo era negro e não tinha emblema. Vejam agora. – Brilhava
como prata e, mais rubra do que uma cereja, estampava-se nele a figura do
Leão. – Sem dúvida – continuou o príncipe – isso quer dizer que Aslam
será nosso guia, quer nos reserve a morte ou a vida. Ajoelhemos
primeiramente para beijar sua imagem; depois apertemos as mãos uns dos
outros, como sinceros amigos que em breve se despedem. Desceremos em
seguida à cidade e aceitaremos o nosso destino.
O príncipe abriu a porta, e desceram as escadas: os três com as
espadas em punho e Jill com seu canivete. Os serviçais tinham
desaparecido e a sala estava vazia. As luzes cinzentas e lúgubres ainda
ardiam, não sendo assim difícil vencer uma galeria depois de outra e descer
as numerosas escadas. Os ruídos do lado de fora do castelo já não eram tão