Page 650 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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Eustáquio dariam tudo para que a jornada não terminasse. Que beleza! As
                  colinas e as clareiras reluzindo com a neve da véspera! Encontrar coelhos,
                  esquilos e passarinhos que diziam bom-dia! Respirar o ar de Nárnia! Ouvir
                  as vozes das árvores de Nárnia!

                         Chegaram finalmente ao rio – que à luz do sol de inverno fluía azul e
                  brilhante – bem mais abaixo da última ponte (que fica numa cidadezinha de
                  telhados  vermelhos  chamada  Beruna).  Ali  foram  transportados  numa
                  barcaça para o outro lado, sob os cuidados de alguns paulamas, que quase
                  sempre se encarregam, em Nárnia, dos assuntos aquáticos.

                         Quando atingiram a outra margem, cavalgaram de novo os centauros
                  e logo estavam em Cair Paravel, onde distinguiram imediatamente aquele
                  mesmo navio reluzente que viram ao pisar em Nárnia pela primeira vez.
                  Parecia  um  grande  pássaro  deslizando  pelo  rio.  Toda  a  corte,  a  fim  de
                  saudar o rei, estava outra vez reunida no relvado entre o castelo e o cais.
                  Rilian,  que  havia  trocado  sua  roupagem  negra  por  um  manto  escarlate
                  sobre uma blusa de malha prateada, estava à beira do cais, sem chapéu, à
                  espera  do  pai.  O  anão  Trumpkin  sentava-se  a  seu  lado,  na  cadeirinha
                  puxada pelo burro.

                         Viram  logo  as  crianças  que  não  haveria  chance  de  alcançar  o
                  príncipe,  cercado  pela  multidão.  Além  disso,  sentiam-se  agora  meio
                  tímidos. Perguntaram então aos centauros se poderiam ficar montados um
                  pouco mais de tempo, do contrário nada veriam. Os centauros não fizeram
                  objeção.
                         Uma  fanfarra  de  trompas  prateadas  veio  do  convés  do  navio;  os
                  marinheiros  lançaram  uma  corda;  ratos  (ratos  falantes,  naturalmente)  e
                  paulamas puxaram logo o navio, que se encostou ao cais. Músicos, ocultos
                  pela multidão, começaram a tocar uma marcha solene e triunfal. Os ratos

                  estenderam, pressurosos, o portaló.
                         Jill  esperava  ver  o  velho  rei  descer  os  degraus,  mas  alguma  coisa
                  devia  estar  acontecendo.  Um  nobre  de  rosto  pálido  desceu  ao  cais  e
                  ajoelhou-se diante do príncipe e de Trumpkin. Os três conversaram alguns
                  minutos  com  as  cabeças quase  coladas; nada  se ouvia  do que  diziam.  A
                  música  continuava,  mas  era  evidente  que  todos  se  sentiam  um  pouco
                  inquietos. Quatro nobres, carregando algo muito lentamente, surgiram no
                  convés.  Quando  chegaram  ao  portaló  já  era  possível  distinguir  o  que
                  conduziam: o velho rei estendido sobre uma cama, muito pálido e inerte. A

                  cama foi deposta no chão. O príncipe ajoelhou-se e abraçou o pai. O rei
                  Caspian  ergueu  a  mão  direita  e  deu  a  bênção  ao  filho.  Todos  ergueram
                  vivas,  mas  não  eram  ovações  muito  animadas,  pois  sabiam  que  alguma
                  coisa  ia  mal.  Subitamente  a  cabeça  do  rei  baqueou  nos  travesseiros;  os
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