Page 768 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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E então, de um outro canto, surgiu o rei Cor da Arquelândia junto
com seu pai, o rei Luna, e sua esposa, a rainha Aravis; com eles estavam o
príncipe Corin Mão-de-Ferro, o cavalo Bri e a égua Huin. Em seguida
apareceram, de um passado ainda mais remoto, os dois bons castores e o
fauno Tumnus – o que, aos olhos de Tirian, foi a maravilha das maravilhas.
E só se ouviam cumprimentos, beijos, apertos de mãos e velhas
brincadeiras (vocês nem imaginam como é bom contar de novo uma velha
piada, depois de uns quinhentos ou seiscentos anos!). E o grupo inteiro foi
se movendo lentamente para o centro do pomar, onde a fênix estava
pousada no alto de uma árvore, contemplando-os. Ao pé daquela árvore
havia dois tronos e, nestes, um rei e uma rainha tão majestosos e belos que
todos se inclinaram perante eles. E fizeram muito bem, pois aqueles dois
eram o rei Franco e a rainha Helena, de quem descendiam todos os reis
mais antigos de Nárnia e da Arquelândia. Tirian sentiu-se como você
também se sentiria caso fosse trazido à presença de Adão e Eva em toda a
sua glória.
Cerca de meia hora mais tarde (ou bem poderia ter sido uns
cinqüenta anos mais tarde, pois o tempo ali não é como o tempo aqui),
Lúcia encontrava-se ao lado do fauno Tumnus, o mais antigo de seus
amigos narnianos. Juntos, contemplavam, por cima do muro do jardim, a
terra inteira de Nárnia estendida lá embaixo. Ao olhar lá de cima,
perceberam que aquela montanha era muito mais alta do que imaginavam:
descia milhares de quilômetros de reluzentes precipícios abaixo deles, e as
árvores naquele mundo lá embaixo mais pareciam grãozinhos de sal verde.
Lúcia virou-se outra vez para dentro e, de costas para o muro, contemplou
o jardim.
– Ah! – disse afinal, pensativa. – Agora estou percebendo. Este
jardim é como o estábulo. É muito maior do lado de dentro do que parece
visto de fora.
– Naturalmente, Filha de Eva – disse o fauno. – Quanto mais se sobe
e mais se entra, maior tudo vai ficando. O interior é muito maior que o
exterior.
Depois de olhar atentamente para o jardim, Lúcia percebeu que, na
verdade, aquilo não era jardim coisa nenhuma. Era, isto sim, um verdadeiro
mundo, com seus próprios rios, florestas, mares e montanhas. Estes, porém,
não lhe eram estranhos: ela os conhecia todos.
– Agora estou entendendo – disse ela. – Isto aqui ainda é Nárnia, e
muito mais real e formosa do que aquela Nárnia lá embaixo, da mesma
forma que aquela parecia bem mais real e bonita do que a Nárnia que se via
do lado de fora da porta do estábulo. Agora estou entendendo... Um mundo
dentro de outro mundo, uma Nárnia dentro de uma outra Nárnia...