Page 767 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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na grande Batalha do Beruna e que, depois disso, navegara até o fim do
                  mundo  em  companhia  do  rei  Caspian,  o  Navegador.  Estava  ainda  meio
                  atordoado, quando sentiu  dois fortes braços  rodearem  seus ombros  e  um
                  beijo  com  barba  tocar-lhe  a  face;  e  ouviu  uma  voz  da  qual  se  lembrava
                  muito bem:

                         – Puxa, rapaz! Estás muito mais robusto e mais alto do que quando te
                  abracei a última vez!

                         Era seu próprio pai, o bom rei Erlian. Não, porém, como Tirian o
                  vira pela última vez, quando fora trazido para casa pálido e ferido da sua
                  luta com o gigante, nem mesmo como o recordava nos seus últimos anos,
                  um velho guerreiro de cabelos grisalhos. Aquele ali era o seu pai; o jovem
                  alegre e jovial de quando Tirian não passava ainda de um menininho e com
                  o qual brincava nos jardins do castelo de Cair Paravel, nas noites de verão,
                  antes de ir para a cama. O mesmo cheiro de pão com leite que costumavam
                  comer  ao  jantar veio-lhe  outra vez  à  memória.  Precioso pensou consigo:
                  “Vou deixá-los conversando um pouco e ver se encontro o bom rei Rilian
                  para cumprimentá-lo. Quantas maçãs suculentas ele me deu quando eu não
                  passava de um potrinho!” Mas, no mesmo instante, mudou de idéia, pois à
                  entrada do portão surgiu um cavalo tão imponente e nobre, que faria até
                  mesmo  um  unicórnio  sentir-se  tímido  na  sua  presença:  era  um  enorme
                  cavalo  alado.  Ele  olhou  um  instante  para  Lorde  Digory  e  Lady  Polly  e
                  então relinchou:

                         – Priiimos! Vocês? ! – Os dois exclamaram:
                         –  Pluma!  Pluma,  velho  de  guerra!  –  e  saíram  correndo  ao  seu
                  encontro para beijá-lo.

                         Entrementes,  o  Rato  estava  novamente  apressando-os  a  entrar.
                  Assim, todos transpuseram os portões dourados e ingressaram no jardim,
                  onde  os  envolveu  um  delicioso  aroma.  A  luz  do  sol  mesclava-se
                  suavemente  com  a  sombra  das  árvores,  e  eles  caminhavam  sobre  um
                  relvado primaveril salpicado de florzinhas brancas. A primeira coisa que
                  chamou a atenção de todos foi que o lugar era muito maior do que parecia,
                  visto do lado de fora. Ninguém, contudo, teve tempo de pensar nisso, pois
                  de todas as direções começaram a aparecer pessoas para saudar os recém-
                  chegados.

                         Todo mundo que se possa imaginar (isto é, quem conhece a história
                  desses países) parecia estar ali: a coruja Plumalume e o paulama Brejeiro; o
                  rei Rilian com seu pai, o rei Caspian, e sua mãe, a filha da Estrela; e, bem
                  pertinho deles, Lorde Drinian e Lorde Bern, o anão Trumpkin e o Caça-
                  trufas, o bom texugo, bem como o centauro Ciclone e centenas de outros
                  heróis da grande guerra da libertação.
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