Page 762 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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da mesma forma que o nosso mundo é apenas uma sombra ou uma cópia de
                  algo  do  verdadeiro  mundo  de  Aslam.  Lúcia,  você  não  precisa  prantear
                  Nárnia. Todas as criaturas queridas, tudo o que importava da velha Nárnia
                  foi  trazido  aqui  para  a  verdadeira  Nárnia,  através  daquela  Porta.  Tudo  é
                  diferente, sim; tão diferente quanto uma coisa real difere de sua sombra, ou
                  como a vida real difere de um sonho.

                         Enquanto  ele  falava  essas  palavras,  sua  voz  fez  todo  mundo
                  estremecer, como ao som de uma trombeta. Mas quando ele acrescentou:
                  “Está tudo em Platão, tudo em Platão... Caramba! Gostaria de saber o que
                  essas crianças aprendem na escola!”, os mais velhos desataram a rir. Era
                  exatamente isso que ele costumava dizer muito tempo atrás, naquele outro
                  mundo, onde sua barba era grisalha em vez de dourada. Ele sabia por que
                  eles estavam rindo, por isso começou a rir também. Mas não tardaram a
                  ficar  sérios  de  novo,  pois,  como  você  sabe,  existe  um  certo  tipo  de
                  felicidade e assombro que faz a gente ficar séria. É bom demais para se
                  estragar com piadinhas.

                         É tão difícil explicar a diferença entre essa terra ensolarada e a antiga
                  Nárnia, quanto dizer que gosto tinham as frutas daquele país. Talvez você
                  consiga ter alguma idéia se pensar no seguinte: faça de conta que está em
                  uma sala cuja janela dá para uma bonita baía, ou para um vale verdinho que
                  se perde de vista entre as montanhas. Na parede oposta à janela existe um
                  grande espelho. Agora olhe pela janela. Ao se voltar, você se depara com a
                  mesma vista do mar ou do vale no espelho. E, no espelho, o mar ou o vale
                  são, num certo sentido, exatamente a mesma coisa que os reais. Ao mesmo
                  tempo,  porém,  existe  algo  diferente:  são  mais  vivos,  mais  maravilhosos,
                  mais parecidos com os lugares de uma história que você, apesar de jamais
                  ter ouvido, gostaria muitíssimo de escutar. Pois bem: a diferença entre a
                  Nárnia antiga e a nova era algo assim. Os campos da nova Nárnia eram
                  muito mais vivos: cada rocha, cada flor, cada folhinha de grama parecia ter
                  um significado ainda maior. Não há como descrevê-la: se algum dia você
                  chegar lá, então compreenderá o que quero dizer.

                         Foi o unicórnio quem resumiu o que todos estavam sentindo. Cravou
                  a pata dianteira no chão, relinchando, e depois exclamou:

                         –  Finalmente  voltei  para  casa!  Este,  sim,  é  o  meu  verdadeiro  lar!
                  Aqui é o meu lugar. É esta a terra pela qual tenho aspirado a vida inteira,
                  embora até agora não a conhecesse. A razão por que amávamos a antiga
                  Nárnia é que ela, às vezes, se parecia um pouquinho com isto aqui. – E
                  acrescentou,  soltando  um  longo  relincho:  –  Avancemos!  Continuemos
                  subindo!

                         Então  sacudiu  a  crina  e  partiu  a  todo  galope  –um  galope  de
                  unicórnio,  que,  se  fosse  em  nosso  mundo,  o  teria  feito  desaparecer  em
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