Page 758 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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o verdadeiro Tash, a quem chamaram sem conhecer nem acreditar, veio
para o meio de nós e agora vai se vingar.” Embora, dentro de mim, meu
coração estivesse derretido de temor perante a grandeza de Tash, ainda
assim o desejo de vê-lo era mais forte. Então, com um esforço tremendo
para não deixar que meus joelhos tremessem ou que meus dentes batessem,
decidi encarar Tash face a face, mesmo que ele me matasse. Assim,
ofereci-me para entrar no estábulo. E o tarcaã, mesmo contra a vontade, me
permitiu entrar.
– Assim que passei por aquela porta, minha primeira surpresa foi que
me encontrei no meio dessa grande claridade, ainda que, visto do lado de
fora, o interior da cabana parecesse completamente escuro. Nem tive tempo
de maravilhar-me com isso, pois no mesmo instante me vi forçado a lutar
contra um dos nossos próprios homens para defender a minha vida. Assim
que o vi, percebi que o macaco e o tarcaã o haviam colocado ali para matar
qualquer um que entrasse e que não estivesse a par de seus planos. Esse
homem, portanto, devia ser um outro mentiroso, um trapaceiro, e não um
verdadeiro servo de Tash. Por isso eu o enfrentei com o maior prazer. E,
após matar o vilão, atirei-o para trás de mim, porta afora.
– Depois olhei à minha volta e vi o céu e toda esta amplidão e aspirei
o aroma da terra. Então disse: “Por todos os deuses, que lugar agradável!
Devo ter chegado ao país de Tash.” E comecei a percorrer esta estranha
terra, procurando por ele.
– Passei por muita grama e muitas flores e encontrei saudáveis e
deleitosas árvores de todos os tipos, até que, em um lugarzinho estreito
entre dois rochedos, avistei vindo ao meu encontro um enorme Leão. Tinha
a velocidade do avestruz e o tamanho do elefante; sua cabeleira era como
ouro puro e o brilho de seu olhar como ouro quando arde na fornalha. Era
mais temível que a Montanha Ardente de Lagur, e sua beleza superava tudo
que há no mundo, mesmo a rosa em botão cuja beleza supera a areia do
deserto. Então prostrei-me aos seus pés, pensando: “Esta é certamente a
hora da minha morte, pois o Leão (que é digno de toda a honra) bem saberá
que, durante toda a minha vida, tenho servido a Tash e não a ele. No
entanto, melhor é ver o Leão e depois morrer do que ser Tisroc do mundo
inteiro e viver sem nunca havê-lo encontrado.” Porém, o glorioso ser
inclinou a cabeça dourada e me tocou a testa com a língua, dizendo: “Filho,
sê bem-vindo!” Mas eu repliquei: “Ai de mim, Senhor! Não sou filho teu,
mas, sim, um servo de Tash!” “Criança”, continuou ele, “todo o serviço
que tens prestado a Tash, eu o considero como serviço prestado a mim.”
Então, tão grande era o meu anseio por sabedoria e conhecimento, que
venci o temor e resolvi indagar o glorioso ser: “Senhor, é verdade, então,
como disse o macaco, que tu e Tash sois um só?” O Leão deu um rugido
tão forte que a terra tremeu (sua ira, porém, não era contra mim), dizendo: