Page 754 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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Então,  lá  longe,  começou  a  clarear.  Uma  faixa  de  tênue  alvorada
                  espalhou-se ao longo do horizonte, e foi aumentando e brilhando cada vez
                  mais, até que por fim mal se notava a luz das estrelas atrás deles. Afinal, o
                  Sol  apareceu.  Ao  vê-lo,  Lorde  Digory  e  Lady  Polly  se  entreolharam
                  significativamente: os dois já haviam visto, em um outro mundo, um sol
                  moribundo; assim, na mesma hora compreenderam que aquele sol também
                  estava morrendo. Era três vezes – vinte vezes – maior do que deveria ser e
                  vermelho-escuro.  Quando  os  seus  raios  tocaram  o  gigante  Tempo,  este
                  também ficou vermelho; e, aos reflexos desse sol, toda aquela vastidão de
                  águas sem praia parecia sangue.

                         Então  a  Lua  apareceu,  numa  posição  completamente  errada,  bem
                  pertinho do Sol; e ela também estava vermelha. E, assim que ela surgiu, o
                  Sol  começou  a  lançar-lhe  umas  chamas  enormes,  como  se  fossem
                  serpentinas  de  fogo  carmesim;  parecia  um  polvo  tentando  puxá-la  para
                  perto  de  si  com  seus  tentáculos.  E  talvez  tenha  sido  isso  mesmo  o  que
                  aconteceu, pois a Lua se aproximou dele, a princípio devagar, depois mais
                  rápido  e  cada  vez  mais  depressa,  até  que  afinal  as  compridas  chamas  a
                  envolveram totalmente e os dois se fundiram, transformando-se numa bola
                  de  fogo  colossal.  E  daquela  enorme  brasa  ardente  começaram  a  pingar
                  pedaços de fogo, que caíam no oceano levantando nuvens de vapor. Então
                  Aslam disse:

                         – Que agora haja um fim!

                         O gigante lançou ao mar sua trombeta. Depois esticou um braço (era
                  negro  e  parecia  ter  milhares  de  quilômetros  de  comprimento)  através  do
                  céu, até que sua mão alcançou o Sol. Ele o pegou e espremeu com a mão
                  como  quem  espreme  uma  laranja.  E,  no  mesmo  instante,  fez-se  total
                  escuridão.

                         Todos, com exceção de Aslam, deram um pulo para trás, ao sentir o
                  impacto do frio gelado que começou a soprar através da Porta, a qual já
                  estava ficando coberta de pingentes de gelo.
                         – Pedro, Grande Rei de Nárnia – disse Aslam. – Feche a porta.

                         Tiritando de frio, Pedro adiantou-se para a escuridão e empurrou a
                  Porta. Esta se fechou ruidosamente, raspando o gelo que já avançava por
                  baixo.  Depois,  um  tanto  desajeitado  (pois  no  mesmo  instante  suas  mãos
                  tinham ficado roxas e dormentes de frio), Pedro pegou uma chave de ouro e
                  trancou a Porta.

                         Eles  já  haviam  visto  bastantes  coisas  esquisitas  através  daquela
                  Porta. O mais estranho de tudo, porém, foi quando olharam ao redor e se
                  viram cercados pela calorosa luz do dia; acima o céu azul, flores aos seus
                  pés e um sorriso nos olhos de Aslam. Este virou-se, rapidamente, abaixou-
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