Page 751 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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Com um misto de espanto e terror, todos subitamente estremeceram
ao se darem conta do que estava realmente acontecendo. A escuridão que
se propagava não era nuvem coisa nenhuma: era simplesmente um vazio. A
parte negra do céu era o lugar onde já não havia mais estrelas. Todas elas
estavam caindo. Aslam as chamara de volta para casa.
Os derradeiros instantes que antecederam o fim da chuva de estrelas
foram muito emocionantes. Estrelas começaram a cair ao redor deles.
Naquele mundo, no entanto, as estrelas não são essas grandes bolas
incandescentes do nosso mundo. Lá elas são pessoas (Edmundo e Lúcia já
haviam encontrado uma, certa vez). Portanto, eles se viram rodeados de
pessoas resplandecentes, todas elas com longos cabelos que pareciam prata
em chama e com lanças como que de metal branco ardente, precipitando-se
do céu negro na direção deles, mais velozes do que raios. Elas sibilavam ao
bater no chão, queimando a grama. E todas aquelas estrelas que passavam
voando por eles iam ficando de pé em algum lugar mais atrás, um pouco à
direita.
Ainda bem, pois, do contrário, agora que já não havia mais uma
única estrela brilhando no céu, tudo estaria completamente escuro e não
daria mais para ver coisa alguma. E assim a multidão de estrelas atrás deles
emitia uma fortíssima luz esbranquiçada, que refletia por cima de seus
ombros. Eles podiam ver quilômetros e quilômetros de florestas narnianas
estendidas à sua frente, como se fossem iluminadas por potentes holofotes.
Cada moita e quase cada folhinha de grama deixava atrás de si uma sombra
negra. Cada folha destacava-se tão afiada e com tanta nitidez, que se tinha a
impressão de que se poderia cortar o dedo caso se tocasse nelas.
A própria sombra deles projetava-se na grama à sua frente. Mas
impressionante mesmo era a sombra de Aslam. Esta espalhava-se à sua
esquerda, enorme e assustadora. E tudo isso se passava sob um céu que, a
partir de agora, nunca mais teria nenhuma estrela.
A luz que vinha de detrás deles (e um pouco para a direita) era tão
forte que chegava a iluminar até mesmo as encostas dos pântanos do Norte.
Lá, alguma coisa estava se movendo. Animais enormes vinham descendo
em direção a Nárnia, rastejando ou deslizando vagarosamente: eram
dragões imensos, lagartos gigantes, pássaros sem penas com asas de
morcego. Desapareceram no meio da mata e, durante alguns minutos, só
houve silêncio. Depois (a princípio muito distante) ouviram-se gemidos, e
então, vindos de todas as direções, um roçar, um bater de patas e um
farfalhar de asas. E vinham se aproximando cada vez mais. Logo tornou-se
possível distinguir entre o ruído de pezinhos miúdos e o barulho surdo de
grandes patas, entre o clac-clac de patinhas leves e o trovejar de cascos
graúdos. Em seguida, milhares de pares de olhos brilharam na escuridão.
Finalmente, saindo da sombra das árvores e correndo vertiginosamente