Page 748 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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–  Mas  que  ousadia!  –  berrou  ele.  –  Onde  já  se  viu  me  passar  um
                  monte de palha imunda na cara? ! E, ainda por cima, cheio de carrapicho!
                  Parece a gororoba de vocês! Afinal, quem é você?

                         – Seu verme! – interveio Tirian. – Ela é a rainha Lúcia, enviada para
                  cá por Aslam, vinda de um passado longínquo. E é só por amor a ela que
                  eu,  Tirian,  seu  leal  rei,  não  lhes  arranco  a  cabeça  dos  ombros,  seus
                  traidores, provada e comprovada-mente traidores!

                         – Mas isso é o cúmulo! – exclamou Ranzinza. –Você ainda continua
                  insistindo  nessa  baboseira  toda?  Seu  maravilhoso  Leão  não  veio  lhe  dar
                  uma mãozinha, hein? Eu sabia! E, ainda assim, mesmo depois de ter sido
                  derrotado e enfiado aqui neste buraco escuro, igualzinho a qualquer um de
                  nós, você ainda insiste nesse velho jogo? ! E agora me aparece com uma
                  nova mentira, não é? Tentando fazer a gente acreditar que ninguém aqui
                  está trancado e que não está escuro, e sabe-se lá o que mais...

                         – Não existe buraco escuro coisa nenhuma, a não ser na sua própria
                  cabeça, seu imbecil – berrou Tirian. – Saia daí, vamos! – E, inclinando-se
                  para a frente, Tirian agarrou Ranzinza pelo cinto e o capuz, arrancando-o
                  de perto dos outros anões e colocando-o bem longe. Mas, assim que tocou
                  o chão, Ranzinza disparou de volta para o mesmo lugar no meio dos outros,
                  esfregando o nariz e gritando:
                         –  Ui!  Ui!  Por  que  você  fez  isso?  Me  atirou  de  cabeça  contra  a
                  parede! Por pouco não me quebrou o nariz!

                         – Oh, não! – disse Lúcia. – O que vamos fazer com eles?

                         –  Deixe-os  para  lá!  –  disse  Eustáquio.  Mas  enquanto  ele  falava  a
                  terra estremeceu. A doce atmosfera tornou-se ainda mais doce e um clarão
                  brilhou ao lado deles. Todos se voltaram. O último a se virar foi Tirian,
                  porque  estava  com  medo.  Ali  estava  o  anseio  de  seu  coração,  enorme  e
                  real:  o  Leão  dourado,  o  próprio  Aslam.  Os  outros  já  se  encontravam
                  ajoelhados em círculo em volta de suas patas dianteiras, com as mãos e o
                  rosto enterrados na sua juba, enquanto ele abaixava a cabeçorra para afagá-
                  los  com  a  língua.  Então  fixou  os  olhos  em  Tirian,  que  se  aproximou,
                  tremendo, e atirou-se aos pés do Leão. Este o beijou, dizendo:

                         – Muito bem, último dos reis de Nárnia, que permaneceu firme até
                  na hora mais escura!

                         – Aslam – disse Lúcia, entre lágrimas –, será que você não podia...
                  por favor... faça algo por estes pobres anões...
                         –  Minha querida – disse  Aslam  –,  vou  mostrar-lhe tanto  o que  eu
                  posso quanto o que eu não posso fazer.
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