Page 747 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
P. 747
pareceram notar os humanos à sua volta, a não ser quando Lúcia e Tirian
chegaram tão pertinho deles que dava para tocá-los. Então todos os anões
sacudiram a cabeça como se não conseguissem ver ninguém, mas
estivessem escutando atentamente e tentando adivinhar pelos ruídos o que
se passava.
– Ei, cuidado! – disse um deles, numa voz azeda. – Por que não
olham por onde andam? Não caminhem por cima da gente!
– Tá bom, tá bom! – disse Eustáquio, irritado.
– Não somos cegos. Nossos olhos funcionam muito bem.
– Pois devem ser mesmo muito bons para enxergar aqui dentro! –
disse o mesmo anão, cujo nome era Ranzinza.
– Aqui onde? – perguntou Edmundo.
– Ora, seu tapado, aqui dentro, é claro! – respondeu Ranzinza. –
Aqui neste buraco deste está-bulo fedorento, apertado e escuro como breu.
– Você está cego? – perguntou Edmundo.
– E quem não fica cego nesta escuridão? – resmungou Ranzinza.
– Mas aqui não está escuro coisa nenhuma, seus anõezinhos
estúpidos! – disse Lúcia. – Será que não percebem? Vamos, levantem o
rosto! Olhem ao seu redor! Será que não vêem o céu, as árvores e as flores?
Vocês não estão me vendo?
– Ora, vá tapear outro! Como é que eu posso ver uma coisa que não
existe? E como é que eu posso vê-la (ou você a mim) nesta escuridão de
breu?
– Mas eu estou vendo você! – disse Lúcia. – Quer que eu prove?
Você está com um cachimbo na boca.
– Qualquer um que conheça cheiro de tabaco poderia dizer isso –
replicou Ranzinza.
– Pobrezinhos! Que coisa terrível! – exclamou Lúcia. Então ela teve
uma idéia. Saiu e colheu algumas violetas silvestres.
– Escutem aqui, anões – disse ela. – Embora seus olhos estejam com
algum problema, quem sabe o nariz esteja funcionando bem. Que cheiro é
este?
Ela inclinou-se e aproximou do narigão de Ranzinza as flores
frescas, ainda úmidas de orvalho. Entretanto, teve de dar um pulo para trás
a fim de evitar um soco do punhozinho pesado do anão.