Page 749 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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Aproximando-se dos anões, Aslam deu um leve rugido: leve, mas
mesmo assim fez o ar vibrar. Os anões, porém, disseram uns aos outros:
– Escutaram só? Deve ser a turma do outro lado do estábulo. Estão
tentando nos assustar. Devem ter feito esse barulho com algum tipo de
máquina. Não vamos nem dar bola. Desta vez não nos enganam mais.
Aslam ergueu a cabeça e sacudiu a juba. No mesmo instante, um
maravilhoso banquete apareceu aos pés dos anões: tortas, assados, aves,
pavês, sorvetes e, na mão direita de cada um, uma taça de excelente vinho.
Mas de nada adiantou. Eles começaram a comer e a beber com a maior
sofreguidão, mas notava-se claramente que nem sabiam direito o que
estavam degustando. Pensavam estar comendo e bebendo apenas coisas
ordinárias, dessas que se encontram em qualquer estrebaria. Um deles disse
que estava comendo capim; outro falou que tinha arranjado um pedaço de
nabo velho; e um terceiro disse que havia achado uma folha de repolho cru.
E levavam aos lábios taças douradas com rico vinho tinto, dizendo:
– Puááá! Muito bonito! Beber água suja, tirada do cocho de um
jumento! Nunca pensei que chegássemos a tanto!
Mas logo cada anão começou a desconfiar de que o outro havia
conseguido algo melhor que ele, e daí começaram a se agarrar e a discutir,
e a briga foi ficando cada vez mais feia, até que, em poucos minutos, todos
estavam engalfinhados numa verdadeira luta livre, e todas aquelas iguarias
espalharam-se por seus rostos e roupas e esparramaram-se pelo chão. Mas
quando finalmente se sentaram de novo, cada qual esfregando seu olho
roxo ou o nariz sangrando, começaram a dizer:
– Bem, pelo menos aqui não há nenhuma trapaça. Não deixamos
ninguém nos levar no bico. Vivam os anões!
– Viram só? – disse Aslam. – Eles não nos deixarão ajudá-los.
Preferem a astúcia à crença. Embora a prisão deles esteja unicamente em
suas próprias mentes, eles continuam lá. E têm tanto medo de serem
ludibriados de novo que não conseguem livrar-se. Mas, venham comigo,
meus filhos. Tenho um outro trabalho a fazer.
Aslam dirigiu-se para a porta, seguido de todo o grupo. Então
levantou a cabeça e rosnou:
– O tempo é chegado. Agora! Tempo! – E depois rosnou mais alto. –
Tempo! – E depois tão alto que até as estrelas estremeceram: – TEMPO!
Então a porta se abriu.