Page 752 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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colina acima para salvar a vida, aos milhares e aos milhões, surgiram
criaturas de todos os tipos: animais falantes, anões, sátiros, faunos,
gigantes, calormanos, homens da Arquelândia, monópodes e até estranhos
seres sobrenaturais, vindos das Ilhas Solitárias ou das terras desconhecidas
do Ocidente. Todos corriam em disparada rumo ao portal onde se
encontrava Aslam.
De toda a aventura, essa foi a única parte que mais pareceu um
sonho, naquele momento, e a mais difícil de ser lembrada mais tarde.
Especialmente, ninguém podia dizer quanto tempo durara. Às vezes tinha-
se a impressão de que durara apenas alguns minutos, mas outras vezes
parecia que se haviam passado anos e anos. E óbvio que, a menos que a
porta tivesse se tornado imensamente maior, ou que as criaturas
subitamente tivessem diminuído ao tamanho de mosquitos, uma multidão
daquelas jamais teria sequer tentado passar por ela. Naquele momento,
porém, ninguém pensou nisso.
As criaturas precipitaram-se para a porta e, à medida que se
aproximavam das estrelas ali paradas, seus olhos tornavam-se cada vez
mais brilhantes. Ao chegarem perto de Aslam, no entanto, uma entre duas
coisas se passava com cada uma delas. Todas olhavam direto para a face do
Leão (aliás, acho que nem havia alternativa). Quando algumas olhavam, a
expressão de seus rostos mudava terrivelmente, com uma mistura de temor
e ódio, exceto na cara dos animais falantes: nestes, tanto temor quanto ódio
duravam apenas uma fração de segundos, pois, na mesma hora, deixavam
de ser animais falantes, tornando-se simples animais comuns. E todas as
criaturas que olhavam para Aslam daquele jeito desviavam-se para a direita
(isto é, à esquerda dele), desaparecendo no meio da sua imensa sombra
negra, que (como já lhes disse) se espraiava para a esquerda, do lado de
fora do portal. As crianças nunca mais viram essas criaturas. Não sei o que
se passou com elas. Outras, porém, olhavam para a face de Aslam e o
amavam, embora algumas ficassem ao mesmo tempo muito assustadas. E
todas essas criaturas entravam pela Porta, colocando-se ao lado direito de
Aslam. Entre estas havia também alguns seres meio estranhos. Eustáquio
até reconheceu um dos anões que haviam ajudado a atirar nos cavalos
falantes. Mas ele nem teve tempo de pensar nisso (e, de qualquer forma,
não era mesmo da sua conta), pois a grande alegria que o invadia impedia-o
de pensar em qualquer coisa desse tipo. Entre as felizes criaturas que agora
se reuniam ao redor de Tirian e de seus amigos, encontravam-se todos
aqueles que ele julgara estarem mortos. Lá estavam o centauro Passofirme,
o unicórnio Precioso, o bondoso javali, o querido urso, a águia Sagaz e os
queridos cães e cavalos, sem contar o anão Poggin. – Avançar! Para a
frente e para cima!