Page 755 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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se ainda mais, deu uma rabanada e, estalando a cauda contra o próprio
corpo, disparou zunindo como uma flecha dourada.
– Vamos! Continuem avançando! Continuem subindo! – gritou, por
cima dos ombros. Mas quem poderia acompanhá-lo naquela velocidade?
Eles começaram a caminhar rumo ao Ocidente, tentando acompanhá-lo.
– E assim – disse Pedro – cai a noite sobre Nárnia. O quê, Lúcia? !
Não me diga que está chorando! Com Aslam à nossa frente e todo mundo
aqui junto? !
– Não tente me impedir, Pedro – disse ela. – Aslam certamente não
faria isso. Tenho certeza de que nada há de errado em chorar por causa de
Nárnia. Pense só em quanta coisa está ali por trás daquela porta, tudo morto
e congelado...
– É mesmo – disse Jill. – Eu bem que gostaria que aquilo tudo
durasse para sempre. Eu sei que o nosso mundo não poderia durar, mas
nunca imaginei que Nárnia pudesse acabar um dia.
– Eu vi quando Nárnia começou – disse Lorde Digory. – Mas nunca
pensei que viveria o suficiente para vê-la morrer.
– Senhores – disse Tirian –, as senhoras fazem muito bem em
lamentar. Eu mesmo estou chorando, vejam. Acabo de assistir à morte de
minha própria mãe; pois que outro mundo, além de Nárnia, eu já conheci?
Deixar de pranteá-la não seria virtude alguma, e, sim, descortesia.
Foram se afastando da Porta e também dos anões, que continuavam
amontoados no seu está-bulo imaginário. E, à medida que caminhavam,
relembravam antigas guerras, a paz dos velhos tempos, os reis da
antiguidade e todas as glórias de Nárnia. Os cães continuavam com eles. Às
vezes participavam da conversa, mas não tanto, pois estavam muito
ocupados correndo para cá e para lá, cheirando a grama a cada instante e
com tanta intensidade que acabavam espirrando. De repente, farejaram algo
que os deixou muito excitados. Começaram todos a discutir: “É, sim!” –
“Não é, não!” – “Foi isso que eu acabei de dizer! Qualquer um é capaz de
identificar esse cheiro.” – “Tire essa fuça daí e deixe os outros farejarem
também!”
– O que está acontecendo, primos? – perguntou Pedro.
– Um calormano, senhor – disseram vários cães ao mesmo tempo.
– Então, levem-nos até ele – disse Pedro. – Seja ele de paz ou de
guerra, será bem-vindo.
Os cães saíram em disparada e pouco depois estavam de volta,
correndo como se suas vidas dependessem disso e latindo bem alto para
dizer que, de fato, tratava-se de um calormano. (Os cães falantes, como