Page 757 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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                                                           PARA CIMA E AVANTE!




                         –  Ó  reais  guerreiros,  e  também  vós,  gentis  senhoras,  cuja  beleza
                  ilumina  o  universo!  –  começou  o  calormano.  –  Sabei  que  sou  Emeth,  o
                  sétimo  filho  de  Harpha  Tarcaã,  da  cidade  de  Tashbaan,  situada  no
                  Ocidente, além do deserto. Cheguei a Nárnia recentemente, junto com nove
                  e mais outros vinte calormanos, comandados por Rishda Tarcaã. Assim que
                  soube que deveríamos marchar contra Nárnia, enchi-me de regozijo, pois já
                  ouvira falar muitas coisas sobre a vossa terra e grande era o meu desejo de
                  encontrar-vos  em  batalha.  Mas  quando  descobri  que  deveríamos  ir
                  disfarçados de mercadores (o que é um vergonhoso traje para um guerreiro
                  e filho de tarcaã) e agir usando mentiras e artifícios, então todo o gozo me
                  abandonou.  O  pior  foi  quando  descobri  que  estaríamos  a  serviço  de  um
                  macaco. E quando começaram a dizer que Tash e Aslam eram um só, então
                  o mundo se escureceu aos meus olhos, pois desde criança eu servira a Tash,
                  e meu grande desejo era saber mais sobre ele, se possível encontrá-lo face a
                  face. O nome de Aslam, porém, era detestável aos meus ouvidos.

                         – Então, como vistes, noite após noite éramos todos convocados a
                  reunir-nos do lado de fora daquela cabana de palha, e acendia-se a fogueira,
                  e  o  macaco  tirava  da  cabana  uma  coisa  de  quatro  pernas  que  eu  nunca
                  conseguia  ver  direito.  Aí  todos,  inclusive  os  animais,  inclinavam-se  e
                  prestavam homenagem àquilo. Eu, porém, pensava: “O tarcaã está sendo
                  ludibriado pelo macaco, pois aquela coisa que sai do estábulo não é Tash
                  nem  deus  algum.”  Mas  quando,  certa  vez,  olhei  para  o  rosto  do  tarcaã,
                  prestando atenção a cada palavra que ele dizia ao macaco, mudei de idéia,
                  pois percebi claramente que nem ele próprio acreditava em tudo aquilo. Foi
                  então que compreendi que ele não acreditava em Tash, pois, do contrário,
                  como ousaria escarnecer dele?

                         – Quando me dei conta disso, fui tomado de uma fúria imensa e me
                  perguntei por que o verdadeiro Tash não mandava cair fogo do céu para
                  destruir  tanto  o  macaco  quanto  o  tarcaã.  No  entanto,  escondi  minha  ira,
                  controlei minha língua e resolvi esperar para ver como tudo acabaria. Na
                  noite passada, porém, como alguns de vós devem saber, o macaco, em vez
                  de exibir aquela coisa amarela, disse que todos que quisessem ver Tashlam
                  (pois, a essa altura, eles já haviam juntado os dois nomes para fingir que os
                  dois eram um só) deveriam entrar um a um na palhoça. Então disse para
                  mim  mesmo:  “Sem  dúvida  alguma,  aí  vem  uma  nova  decepção.”  Mas
                  depois que o gato entrou na cabana e saiu apavorado, pensei: “Com certeza
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