Page 750 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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CAI A NOITE SOBRE NÁRNIA
Todos pararam em pé, à direita de Aslam, e olharam através da porta
aberta.
A fogueira havia se apagado. Tudo na terra era completa escuridão:
se não fosse pela escura silhueta das árvores sob o brilho das estrelas, nem
dava para saber que ali havia uma floresta. Quando Aslam deu um novo
rugido, uma outra mancha negra surgiu à esquerda deles. Quer dizer, uma
outra sombra apareceu onde não havia estrelas, e foi subindo e ficando cada
vez mais alta, até que assumiu a forma de um homem, o mais imenso dos
gigantes. Todos conheciam Nárnia o bastante para imaginar onde ele
deveria estar pisando: nos altos pântanos que se estendiam para o Norte,
depois do rio Veloz. Então Jill e Eustáquio lembraram-se de que certa vez,
muito tempo atrás, nos subterrâneos daqueles pântanos, tinham visto um
enorme gigante adormecido; e alguém lhes contara, na ocasião, que o nome
dele era Pai Tempo e que acordaria no dia em que o mundo acabasse.
– Sim – disse Aslam, embora nenhum deles tivesse falado qualquer
coisa. – Enquanto ele dormia, seu nome era Tempo. Mas, agora que
acordou, vai ganhar um novo nome.
Então o gigante levou à boca uma trombeta. Sabiam disso porque a
silhueta dele contra as estrelas mudara de formato. Depois disso – mas só
um pouquinho, já que o som se propaga mais devagar –, ouviram o som da
trombeta, alto e terrível, se bem que de uma beleza estranha e fatal.
Imediatamente o céu ficou cheio de estrelas cadentes. Uma única
estrela cadente já é algo lindo de se ver. Desta vez, porém, eram dúzias
delas, e depois um monte, e depois centenas, até que mais parecia uma
chuva de prata – e assim continuou, aumentando cada vez mais. Quando
finalmente o espetáculo parou por um instante, alguém do grupo teve a
impressão de que uma nova sombra aparecera no céu, assim como a do
gigante. Agora, porém, era num lugar diferente, lá em cima, bem no “teto”
do céu, por assim dizer. “Talvez seja só uma nuvem”, pensou Edmundo.
De qualquer forma, naquele ponto do céu não havia estrelas, só escuridão.
Entrementes, em todo lugar à volta o espetáculo de estrelas continuava.
Então a mancha sem estrelas começou a crescer, espalhando-se cada vez
mais, a partir do centro do céu. Agora já um quarto de todo o céu estava
escuro, e depois a metade, e finalmente só se via a chuva de estrelas
cadentes, lá embaixo, na linha do horizonte.