Page 746 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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Manhoso  jamais  poderia  suspeitar  é  que  o  verdadeiro  Tash  acabasse
                  aparecendo;  e  então  Ruivo  saiu  realmente  apavorado.  Depois  disso,
                  Manhoso deve ter resolvido mandar entrar alguém de quem queria se ver
                  livre, para que o sentinela o matasse. E depois...

                         – Meu amigo – disse Tirian, com brandura. – Você está atrapalhando
                  a narração da senhorita.

                         – Bem – continuou Lúcia –, o sentinela ficou surpreso. Isso deu ao
                  homem o tempo necessário para colocar-se em guarda. Os dois lutaram e o
                  jovem  matou  o  sentinela,  atirando-o  porta  afora.  Então  encaminhou-se
                  lentamente para onde estávamos. Ele conseguia ver a gente e tudo o mais à
                  sua volta. Tentamos falar-lhe, mas ele parecia estar em transe. Ficava só
                  dizendo: “Tash, Tash, onde está Tash? Quero ver Tash!” Então desistimos
                  e ele saiu andando por aí, desaparecendo por aquelas bandas. Gostei dele!
                  Depois disso... Argh! (E aqui Lúcia fez uma careta.)

                         – Então – disse Edmundo –, alguém arremessou um  macaco porta
                  adentro.  E  aí  Tash  apareceu  de  novo.  Minha  irmã  tem  o  coração  muito
                  mole e por isso não quer contar que Tash devorou o macaco de uma só
                  bicada.
                         –  Bem  feito  para  ele!  –  vibrou  Eustáquio.  –  Para  aprender  a  não
                  brincar com Tash!

                         –  Então  –  continuou  Edmundo  –,  apareceram  uns  doze  anões.  E
                  depois Jill, Eustáquio e, finalmente, você, Tirian.

                         –  Tomara  que  Tash  tenha  devorado  os  anões  também!  –  disse
                  Eustáquio. – Aqueles porquinhos imundos!

                         – Não, não devorou – disse Lúcia. – E não seja tão repugnante! Eles
                  ainda estão por aí. Na verdade, dá para vê-los daqui. Já fiz várias tentativas
                  de fazer amizade com eles, mas não adianta.

                         – Fazer amizade com eles? ! – vociferou Eustáquio.
                         – Se você soubesse tudo que esses anões fizeram!

                         – Pare com isso, Eustáquio! – disse Lúcia. – Venha cá, vamos vê-los.
                  Rei Tirian, quem sabe você consegue alguma coisa com eles.

                         – Bem, não ando lá muito amante de anões hoje – respondeu Tirian.
                  – Mas a pedido seu, senhorita, faria muito mais do que isso.

                         Eles  acompanharam  Lúcia  e  logo  todos  avistaram  os  anões.  O
                  comportamento deles era muito estranho. Não estavam andando à toa ou se
                  divertindo (embora as cordas com que haviam sido amarrados parecessem
                  ter-se  evaporado),  nem  mesmo  deitados  ou  descansando.  Pelo  contrário,
                  estavam  sentados  bem  pertinho  uns  dos  outros,  formando  um  círculo
                  apertado, um de cara para o outro. Nunca olhavam ao redor, nem sequer
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