Page 742 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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                                   OS ANÕES NÃO SE DEIXAM TAPEAR




                         Tirian pensara – ou pelo menos teria pensado, se tivesse tido tempo
                  para  isso  –  que  eles  se  encontravam  dentro  de  uma  pequena  cabana  de
                  palha medindo uns quatro metros de comprimento por dois de largura. Na
                  realidade, porém, estavam pisando na grama, tendo ao alto um profundo
                  céu azul, e a brisa que soprava suavemente nas suas faces lembrava um dia
                  de início de verão. Não muito longe deles erguia-se um bosque de árvores
                  de  folhas  muito  espessas,  por  baixo  das  quais  se  via  o  dourado  ou  o
                  amarelo-pálido,  o  roxo  ou  o  vermelho  vivo  de  frutas  nunca  vistas  neste
                  nosso mundo. Ao avistar as frutas, Tirian teve a impressão de que já era
                  outono.  Mas havia  alguma  coisa no  ar que lhe  dizia que poderia ser, no
                  máximo, o comecinho do verão. Todos começaram a caminhar na direção
                  das árvores.

                         Cada  um  deles  ergueu  a  mão  para  apanhar  a  fruta  que  mais  lhe
                  apetecia, e então todos pararam por um instante. As frutas eram tão lindas
                  que todos tiveram o mesmo pensamento: “Estas frutas não são para mim...
                  Certamente não podemos colhê-las!”

                         – Tudo bem – disse Pedro. – Eu sei o que todos estão pensando. Mas
                  tenho  certeza,  absoluta  certeza,  de  que  não  precisamos  nos  preocupar.
                  Tenho a impressão de que nós chegamos àquele país onde tudo é permitido.

                         – Pois, então, mãos à obra! – disse Eustáquio. E todos começaram a
                  comer.
                         E o gosto das frutas? Infelizmente, sabor não se descreve. Só posso
                  dizer que, comparado àquelas frutas, o pêssego mais polpudo e fresquinho
                  não teria gosto algum; a laranja mais suculenta pareceria seca; a pêra mais
                  macia, daquelas de derreter na boca, ainda seria dura e fibrosa; e o abacaxi
                  mais  docinho  e  maduro  seria  azedo.  E  elas  não  tinham  sementes,  nem
                  pedras, nem vespas. Depois de se provar uma fruta daquelas uma única vez,
                  a sobremesa mais deliciosa do mundo inteiro teria gosto de remédio. Mas
                  não dá mesmo para descrever. O único jeito de se saber como elas são é ir
                  até esse lugar e experimentá-las.

                         Depois de comerem até se fartar, Eustáquio disse ao rei Pedro:

                         –  Você  ainda  não  nos  contou  como  chegaram  até  aqui.  Quando
                  estava começando a nos dizer, o rei Tirian apareceu.
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