Page 738 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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arremetendo daqui, desviando-se de lá, dando guinadas e rasteiras –, não se
                  tem muito tempo para sentir tristeza ou cansaço. Tirian sabia que, agora,
                  nada podia fazer pelos outros: estavam todos igualmente condenados. Viu
                  vagamente o javali tombar ao seu lado e Precioso lutando furiosamente do
                  outro lado. Por um canto do olho viu, de relance, um enorme calormano
                  arrastando  Jill  pelos  cabelos  para  algum  canto.  Agora,  porém,  mal  dava
                  para pensar nisso: seu único pensamento era vender a própria vida o mais
                  caro  possível.  O  pior  de  tudo  era  que  não  estava  conseguindo  manter  a
                  posição na qual iniciara, por detrás do rochedo branco. Quando um homem
                  está enfrentando uma dúzia de inimigos ao mesmo tempo, deve aproveitar
                  as mínimas chances: tem de golpear onde quer que aviste um peito ou um
                  pescoço  inimigo  desprotegido.  Às  vezes  são  necessários  apenas  alguns
                  golpes para nos afastar do ponto inicial. Tirian logo descobriu que estava
                  desviando-se  cada  vez  mais  para  a  direita,  aproximando-se  do  estábulo.
                  Alguma  coisa  lhe  dizia  que  havia  uma  boa  razão  para  manter-se  longe
                  daquele lugar. Mas, no momento, não podia lembrar que razão era essa. E,

                  de qualquer forma, nem dava mais para evitar.
                         De  repente,  tudo  se  tornou  completamente  claro.  Deu-se  conta  de
                  que estava lutando contra o próprio tarcaã. A fogueira (aliás, o que restava
                  dela) estava bem à sua frente. De fato, encontrava-se bem na entrada do
                  estábulo,  pois  este  fora  aberto  e  dois  calormanos  seguravam  a  porta,
                  prontinhos para batê-la às costas de Tirian assim que ele estivesse lá dentro.
                  Agora se lembrava de tudo; e aí percebeu que, desde o começo da luta, o
                  inimigo vinha tentando encurralá-lo para dentro do estábulo. Tudo isso ele
                  pensava enquanto lutava contra o tarcaã, com todas as forças possíveis.

                         Então ocorreu-lhe uma nova idéia. Deixando cair a espada, atirou-se
                  para  a  frente  com  uma  guinada,  evitando  assim  o  golpe  da  cimitarra  do
                  tarcaã, e atracou-se à cintura do inimigo com as duas mãos; depois deu um
                  pulo para dentro do estábulo, gritando:

                         – Vamos! Venha você mesmo ao encontro de Tash!

                         Ouviu-se um barulho ensurdecedor. Assim como quando o macaco
                  fora atirado lá para dentro, a terra estremeceu e uma luz ofuscante brilhou.
                         Os soldados calormanos que estavam de guarda guincharam: “Tash!
                  Tash!”, e bateram a porta. Se Tash queria o seu capitão, ele que o tivesse
                  agora. Eles é que não queriam nem conversa com Tash.

                         Tirian  ficou  um  instante  sem  saber  direito  onde  estava,  nem
                  tampouco  quem  ele  era.  Então,  passados  alguns  segundos,  se  recompôs:
                  endireitou-se, piscou os olhos e olhou ao redor. Dentro do estábulo não era
                  escuro como imaginava. Ao contrário, havia uma luz fortíssima: por isso é
                  que  estava  piscando  os  olhos.  Voltou-se,  tentando  olhar  para  Rishda
                  Tarcaã; mas Rishda não estava olhando para ele. O capitão deu um longo
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