Page 733 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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avançarmos, eles tentarão nos rodear, separando-nos uns dos outros com as
                  suas lanças?

                         –  Concordo,  anão  –  respondeu  Tirian.  –  Mas  não  acha  que  é
                  justamente  isso  que  eles  querem,  encurralar-nos  para  entrarmos  no
                  estábulo? Quanto mais longe ficarmos daquela porta maldita, melhor.

                         – O rei tem razão – disse Sagaz. – Para longe desse maldito estábulo
                  e seja lá o que for que está lá dentro... E a todo custo!

                         – Isso mesmo – disse Eustáquio. – Só de olhar para ele, já fico com
                  raiva.
                         – Bom – falou Tirian. – Agora olhem lá adiante, à nossa esquerda.
                  Estão  vendo  aquele  rochedo  bem  grande  que,  à  luz  da  fogueira,  parece
                  branco como mármore? Pois bem. Em primeiro lugar vamos cair em cima
                  daqueles  calormanos.  Você,  senhorita,  fique  sempre  à  nossa  esquerda  e
                  atire o mais rápido que puder contra as fileiras inimigas. Você, Sagaz, voe
                  direto  contra  os  rostos  deles,  pela  direita.  Enquanto  isso,  atacaremos.
                  Quando estivermos tão perto deles que não der mais para você atirar, Jill,
                  pelo risco de nos atingir, volte correndo para o rochedo branco e espere lá.
                  Quanto  aos  outros,  mantenham-se  alertas,  mesmo  enquanto  estiverem
                  lutando. Temos de dar um jeito neles em poucos minutos ou então nada
                  feito, pois somos bem  menos. Assim que eu gritar “Recuar!”, corram ao
                  encontro  de  Jill  no  rochedo  branco.  Assim  teremos  proteção  à  nossa
                  retaguarda e poderemos respirar um pouco. Agora, Jill, vá!

                         Sentindo-se terrivelmente só, a menina saiu correndo, afastou-se uns
                  seis metros e colocou a perna direita para trás e a esquerda para a frente,
                  ajustando  uma  flecha  no  arco.  Bem  que  ela  gostaria  que  suas  mãos  não
                  tremessem  tanto...  “Lá  se  vai  um  tiro  perdido!”,  pensou  ela,  quando  a
                  primeira  flecha  passou  raspando  sobre  as  cabeças  dos  inimigos.  Em  um
                  segundo, porém, já havia outra flecha no arco: ela sabia muito bem que,
                  naquele momento, o importante era a rapidez. Avistou alguma coisa grande
                  e preta arremetendo contra os rostos dos calormanos: era Sagaz. Primeiro
                  um homem, depois mais um, deixou cair a espada, levantando as mãos para
                  defender os olhos. Então uma das flechas de Jill atingiu um deles e uma
                  outra atingiu um lobo narniano que, ao que parecia, juntara-se ao inimigo.
                  Contudo, apenas alguns minutos após ter começado a disparar, ela teve de
                  parar.  Com  um  flamejar  de  espadas e  o brilho das presas do  javali  e do
                  corno  de  Precioso,  e  entre  o  ruidoso  latido  dos  cães,  Tirian  e  sua  turma

                  avançaram contra o inimigo, como se fossem corredores disputando uma
                  corrida de cem metros.
                         Jill  surpreendeu-se  com  a  falta  de  preparo  demonstrada  pelos
                  calormanos. Nem se deu conta de que isso era fruto do trabalho feito por
                  ela  e  pela  águia.  Não  é  nada  fácil  continuar  olhando  atentamente  para  a
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