Page 729 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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A  terceira  coisa  (que  também  aconteceu  ao  mesmo  tempo)  foi  a
                  única realmente bonita daquela noite. Todos os cães falantes que estavam
                  no  meio  da  multidão  (havia  uns  quinze  deles)  vieram  saltando  e  latindo
                  alegremente  para  o  lado  do  rei.  A  maioria  deles  eram  cães  enormes,
                  corpulentos e de mandíbulas ferozes. Sua chegada foi como o rebentar de
                  uma grande onda na beira da praia: quase derruba a gente no chão. Pois,
                  embora falantes, todos eram tão “cães” como qualquer outro: levantaram-
                  se,  colocando  as patas dianteiras nos  ombros  dos humanos,  e  lamberam-
                  lhes os rostos. E disseram, todos ao mesmo tempo: “Bem-vindos, pessoal-
                  al-al! Contem conosco, já, já, já! Digam: qual é o nosso trabalho? Qual,
                  qual, qual?”

                         Foi  uma  cena  tão  emocionante  que  dava  vontade  de  chorar.
                  Finalmente alguma coisa saía como eles queriam. Quando, pouco depois,
                  vários  animaizinhos  (ratos,  toupeiras,  esquilos  e  outros)  se  aproximaram
                  com  seus  passinhos  miúdos,  tagarelando  alegremente  e  dizendo:  “Aqui!
                  Aqui! Tem mais gente aqui!”, e quando, depois disso, chegaram também o
                  urso e o javali, Eustáquio começou a acreditar que, afinal de contas, tudo
                  poderia  acabar  dando  certo.  Tirian,  porém,  deu  uma  olhadela  ao  redor  e
                  constatou  que,  do  grupo  inteiro,  eram  realmente  bem  poucos  os  animais
                  que haviam atendido ao seu apelo.

                         – Venham! Venham comigo! – chamou de novo. –Será que, depois
                  que deixei de ser o seu rei, vocês todos ficaram covardes?

                         – Não temos coragem! — soluçavam dezenas de vozes. – Tashlam
                  pode enfurecer-se conosco. Livre-nos da ira de Tashlam!
                         – Onde estão todos os cavalos falantes? – perguntou Tirian ao javali.

                         – Nós sabemos! Nós sabemos! – guincharam os ratos. – O macaco
                  colocou-os para trabalhar. Estão todos presos, lá no fundo do vale.

                         –  Então,  meus  amigos  miudinhos,  escutem  aqui:  todo  mundo  que
                  sabe mordiscar, os comedores de nozes e todos os roedores, corram o mais
                  rápido  que  puderem  até  onde  estão  os  cavalos  e  perguntem  se  estão  do
                  nosso lado. Se disserem que sim, metam os dentes nas cordas e roam até
                  libertá-los, e tragam-nos imediatamente para cá.

                         – Com todo o prazer, senhor – disseram as vozinhas. E, num abrir e
                  fechar de olhos, lá se foram aqueles bichinhos de olhos aguçados e dentes
                  afiados. Tirian sorriu, amoroso, ao ver sumir num instante aquele monte de
                  rabinhos  empinados.  Agora,  porém,  era  preciso  pensar  em  outras  coisas.
                  Rishda Tarcaã já estava dando suas ordens.

                         – Vamos! – dizia ele. – Peguem todos (vivos, se possível) e atirem-
                  nos  dentro  do  estábulo...  Ou  então  encurralem  todos  para  lá.  Quando
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