Page 730 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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estiverem lá dentro, vamos atiçar fogo no estábulo e oferecê-los em
sacrifício ao grande deus Tash!
– Ah! – disse Sagaz consigo mesmo. – Então é assim que ele espera
ganhar o perdão de Tash pela sua descrença? !
A linha inimiga (cerca de metade das forças de Rishda) já começava
a avançar, e Tirian mal tivera tempo de dar suas ordens.
– Jill, vá para a esquerda e tente atingir todos quantos puder antes
que nos ataquem. Você, urso, e você, javali, fiquem perto dela. Poggin,
fique aqui à minha esquerda, e você, Eustáquio, à minha direita. Precioso,
guarde a ala da direita. Fique ao lado dele, Confuso, e use os cascos. E
você, Sagaz, fique planando e ataque por cima. Cães, fiquem atrás de nós e,
assim que começar o jogo das espadas, entrem no meio deles e ataquem
para valer. Que Aslam nos ajude!
O coração de Eustáquio só faltava sair pela boca; ele torcia para que,
na hora H, não lhe faltasse coragem. Embora já tivesse visto um dragão e
uma serpente do mar, nunca nada lhe dera tanto frio na barriga quanto
aquela fileira de homens de rosto escuro e olhos brilhantes. Havia uns
quinze calormanos, além de um touro falante de Nárnia, a raposa Ladina e
o sátiro Brigão. De repente ele escutou um zunido à sua esquerda e um
calormano caiu no chão. Logo a seguir, um novo zunido, e desta vez foi o
sátiro quem tombou.
– Muito bem, irmãzinha! Bravo! – gritou Tirian. E então o inimigo
avançou contra eles.
Eustáquio nunca soube dizer o que se passou nos dois minutos
seguintes. Foi tudo como um pesadelo (daqueles que a gente tem quando
está queimando de febre), até que ele escutou a voz de Rishda Tarcaã
gritando lá longe:
– Recuem! Voltem aqui e formem fila de novo! Aos poucos,
Eustáquio foi recuperando os sentidos e viu os calormanos disparando de
volta para perto dos companheiros. Mas nem todos. Dois deles estavam
mortos, um traspassado pelo corno de Precioso e o outro pela espada de
Tirian. A raposa jazia morta aos pés de Eustáquio, sem que este soubesse
dizer ao certo se fora ele ou não quem a matara. O touro também estava
morto, com uma flecha de Jill espetada num olho e um lado estraçalhado
pelas presas do javali.
Do lado de cá, no entanto, também havia perdas. Três cães estavam
mortos e um quarto vinha mais atrás, ganindo e manquejando sobre três
pernas. O urso jazia no chão, mal conseguindo se mover. Na sua voz rouca,
murmurou aturdido diante do fim: “Eu... eu não... compreendo...”; pousou a