Page 725 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
P. 725

Todo  mundo  viu  que  era  verdade.  Então  um  profundo  pavor
                  apoderou-se  de  todos  aqueles  narnianos.  Todos  haviam  aprendido  desde
                  pequeninos que, no começo do mundo, Aslam transformara os bichos de
                  Nárnia em animais falantes, advertindo-os de que, caso se portassem mal
                  algum  dia,  voltariam  a  ser  como  antes,  iguais  aos  animais  irracionais  de
                  qualquer outro mundo. “E agora está acontecendo conosco”, lamentavam-
                  se.

                         – Misericórdia! Misericórdia! – imploraram eles. – Lorde Manhoso,
                  tenha piedade de nós! Seja o mediador entre nós e Aslam e fale-lhe sempre
                  em nosso favor. Nós não ousamos!

                         Ruivo  desapareceu  entre  as  árvores  e  nunca  mais  foi  visto  por
                  ninguém.

                         Tirian continuava com a mão no punho da espada e de cabeça baixa.
                  Estava  estupefato  com  os  horrores  que  vira  naquela  noite.  Às  vezes,
                  pensava que o melhor seria sacar a espada de uma vez e avançar contra os
                  calormanos. Mas, em seguida, ponderava que seria mais prudente esperar
                  para ver o que mais poderia acontecer. E, de fato, algo novo ocorreu logo
                  depois.
                         – Meu pai – falou alguém numa voz clara e ressonante, vinda do lado
                  esquerdo da multidão. Tirian viu logo que quem falava era um calormano,
                  pois no exército do Tisroc os soldados comuns chamam os oficiais de “meu
                  mestre”,  e  os  oficiais  chamam  os  seus  superiores  de  “meu  pai”.  Jill  e
                  Eustáquio não sabiam disso mas, depois de olhar para um lado e para outro,
                  conseguiram ver quem estava falando, pois naturalmente era bem mais fácil
                  enxergar quem estava dos lados do que quem estava no meio, onde o brilho
                  da fogueira fazia com que todos parecessem mais escuros. Era um homem
                  jovem, alto, esbelto e até bonito para os padrões calormanos.

                         –  Meu  pai  –  disse  ele  ao  capitão.  –  Eu  também  quero  entrar  no
                  estábulo.

                         – Fica quieto, Emeth – respondeu o capitão. –Quem te chamou aqui?
                  Como é que um fedelho como tu ousa falar?

                         – Meu pai – disse o jovem –, é bem verdade que eu sou mais jovem
                  do  que  tu.  Tenho,  no  entanto,  sangue  de  tarcaã,  assim  como  tu,  e  sou
                  igualmente servo de Tash. Portanto...

                         –  Silêncio!  –  berrou  Rishda  Tarcaã.  –  Não  sou  eu  porventura  o
                  capitão? Tu nada tens a ver com este estábulo. Ele é para os narnianos.
                         – Nada disso, meu pai – replicou Emeth. – Tu disseste que o Aslam
                  deles e o nosso Tash são um só. E, se isso é verdade, então é o próprio Tash
                  quem está ali dentro. Portanto, por que dizes que nada tenho a ver com ele?
   720   721   722   723   724   725   726   727   728   729   730