Page 724 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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“Isso é porque ele sabe que não há nada a temer.”) O macaco, mofando e
fazendo caretas, saiu arrastando as patas ao lado do gato; ergueu a mão,
levantou a tranca e abriu a porta. Tirian teve a impressão de ouvir o gato
ronronar enquanto passava pela porta escura.
– Miiiaaaauuuuuu!
O pavoroso miado fez todo mundo pular. Você já deve ter acordado
no meio da noite com o barulho de gatos brigando ou fazendo amor no
telhado, e bem sabe a gritaria que eles fazem. Pois dessa vez foi muito pior.
O gato escapuliu do estábulo numa velocidade tão grande que se chocou
violentamente contra o macaco, fazendo-o virar uma enorme cambalhota.
Quem não soubesse que era um gato, pensaria que se tratava de um
relâmpago avermelhado. Ruivo estatelou-se no chão, no meio da multidão,
lá atrás. Ninguém quer topar com um gato numa hora dessas. Era bicho
correndo para todo lado. Ruivo precipitou-se contra uma árvore, rodopiou e
tombou a cabeça. A cauda se eriçou toda, até ficar quase tão grossa quanto
o seu próprio corpo. Os olhos pareciam duas bolas de fogo verde, e cada
pêlo das suas costas estava totalmente arrepiado.
– Eu daria tudo para saber se esse bruto está só fingindo ou se
realmente encontrou algo lá dentro que o apavorasse tanto – disse Poggin.
– Silêncio, meu amigo – disse Tirian, pois queria escutar o que o
capitão e o macaco estavam cochichando. A única coisa que conseguiu
ouvir, porém, foi o macaco choramingando de novo: “Ai, minha cabeça!
Minha cabeça!” Mas teve a impressão de que aqueles dois estavam tão
desconcertados quanto ele com o comportamento do gato.
– Agora, Ruivo, chega de barulho – disse o capitão. – Conta a eles o
que viste lá dentro.
– Ah, ah, ahu! Aaaaiiiiu! – guinchava o gato.
– És ou não és um gato falante? – perguntou o capitão. – Então pára
com essa barulheira e fala de uma vez.
Foi então que algo terrível aconteceu. Tirian tinha quase certeza (e os
outros também) de que o gato estava tentando dizer alguma coisa, mas nada
saía de sua boca, a não ser o barulho comum e feio que emitiria qualquer
bichano bravo ou assustado no fundo de qualquer quintal. E quanto mais
ele miava, menos se parecia com um animal falante. Os outros animais
romperam em apreensivos lamentos e guinchinhos agudos.
– Vejam! Vejam! — ouviu-se a voz do urso. — Ele não consegue
falar! Esqueceu como é que se fala! Voltou a ser um animal mudo. Vejam a
cara dele!