Page 728 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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                                                              ACELERA-SE O PASSO




                         Rápido como um relâmpago, Rishda Tarcaã deu um pulo para trás,
                  colocando-se fora do alcance da espada do rei. Ele não era um covarde e
                  poderia até lutar com uma só mão contra Tirian e o anão, se preciso fosse.
                  Mas enfrentar também a águia e o unicórnio era demais para ele. Rishda
                  sabia  muito  bem  que  as  águias  podem  voar  contra  o  rosto  das  pessoas,
                  dando-lhes bicadas nos olhos e cegando-as com as asas. E seu próprio pai
                  (que já enfrentara os narnianos em batalha) lhe dissera que homem nenhum
                  é capaz de resistir a um unicórnio, a não ser com flechas ou uma lança bem
                  comprida, pois este se empina sobre as patas traseiras e se atira de corpo
                  inteiro para cima da gente, de tal forma que é preciso lidar com os cascos, o
                  chifre e os dentes ao mesmo tempo. Assim, o capitão precipitou-se para a
                  multidão, berrando:

                         – Segui-me, guerreiros do Tisroc (que ele viva para sempre!)! Segui-
                  me, todos os narnianos leais, ou a ira de Tashlam cairá sobre todos vós!

                         Enquanto isso, duas outras coisas aconteciam. O macaco não se dera
                  conta, tão rápido quanto o tarcaã, do perigo que corria. Durante cerca de
                  um minuto permaneceu agachado ao lado da fogueira, olhando estupefato
                  para  os  recém-chegados.  Então  Tirian  lançou-se  em  direção  à  criatura,
                  agarrou-a  pela  nuca  e  partiu  como  um  raio  para  o  estábulo,  gritando:
                  “Abram a porta!” Poggin obedeceu.

                         –  Vá  lá  e  beba  do  seu  próprio  remédio,  Manhoso!  –  disse  Tirian,
                  arremessando o macaco contra a escuridão.
                         Assim que o anão fechou a porta de novo, uma ofuscante luz azul-
                  esverdeada  resplandeceu do  lado de dentro do estábulo,  a terra  tremeu e
                  ouviu-se um estranho ruído – um cacarejar estridente como se fosse a voz
                  rouca  de  algum  pássaro  monstruoso.  Os  bichos  começaram  a  soluçar  e
                  uivar, implorando em alta voz: “Tashlam! Por favor, escondam-nos!”

                         Muitos caíram no chão e outros esconderam a cara entre as asas ou
                  as patas. Ninguém, a não ser a águia Sagaz, cuja visão é melhor que a de
                  qualquer outra criatura, viu o rosto de Rishda Tarcaã naquele momento. E,
                  pelo que viu, a águia percebeu na hora que Rishda estava tão surpreso e
                  quase tão apavorado quanto qualquer um deles. “Eis aí alguém que invocou
                  deuses em que não crê”, pensou a águia. “E agora, se eles vierem mesmo, o
                  que ele vai fazer?”
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