Page 736 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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ambos eram amáveis o suficiente para matar uns aos outros, poupando-lhes
                  trabalho. Os anões queriam Nárnia só para eles.

                         O que eles provavelmente não levaram em consideração era que os
                  calormanos  estavam  protegidos  por  cotas  de  malha,  enquanto  os  cavalos
                  não tinham proteção alguma. Além disso, os calormanos tinham um líder.
                  A voz de Rishda Tarcaã ressoou do lado de lá:

                         – Trinta de vocês fiquem de olho naqueles tolos lá perto do rochedo
                  branco. Os outros venham comigo, que eu quero ensinar uma lição a esses
                  vermezinhos!

                         Tirian e seus amigos, ainda arquejando da luta e gratos por aqueles
                  poucos minutos de descanso, ficaram parados, olhando, enquanto o tarcaã e
                  seus comandados investiam contra os anões.
                         A  cena  era  um  tanto  estranha.  A  fogueira,  quase  apagada,  pouco
                  iluminava, produzindo apenas um clarão avermelhado. Até onde se podia
                  ver, a clareira das reuniões estava agora vazia, à exceção dos anões e dos
                  calormanos. Com aquela luz, quase não dava para ver o que se passava.
                  Pelo  barulho,  parecia  que  os  anões  estavam  empenhados  numa  boa  luta.
                  Tirian conseguia distinguir a voz de Grifo soltando palavrões e, de vez em
                  quando,  a  do  tarcaã  gritando:  “Peguem  todos  quantos  puderem,  vivos!
                  Quero  eles  vivos!”  Mas  a  luta  não  durou  muito  tempo.  Todos  os  ruídos
                  desvaneceram.  Então  Jill  viu  o  tarcaã  voltar  para  o  estábulo,  seguido  de
                  onze homens arrastando onze anões amarrados. (Se os outros haviam sido
                  mortos ou se alguns conseguiram fugir, nunca se soube.)

                         – Joguem-nos no santuário de Tash! – ordenou Rishda.

                         Os  onze  anões,  um  após  o  outro,  foram  atirados  porta  adentro  no
                  meio da escuridão, aos chutes e pontapés. Após fechar novamente a porta,
                  o tarcaã fez uma reverência na direção do estábulo, dizendo:

                         – Ó grande Tash! Estes também são para ser queimados em vossa
                  homenagem!

                         E  todos  os  calormanos,  fazendo  um  grande  barulho  com  suas
                  espadas,  gritaram  exclamando:  “Tash!  Tash!  Grande  Tash!  Inexorável
                  Tash!” (Agora já não havia mais nenhum sentido em falar em Tashlam.)
                         O grupinho do rochedo branco assistia a tudo aquilo entre cochichos.
                  Eles haviam encontrado um filete de água que descia pela rocha e todos
                  beberam sofregamente: Jill, Poggin e o rei beberam com as mãos, ao passo
                  que os animais lamberam da poça que se formava ao pé da pedra. Estavam
                  com tanta sede que aquela lhes pareceu a bebida mais deliciosa de toda a
                  sua vida. E beberam com tanta alegria que não conseguiam pensar em mais
                  nada naquele momento.
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