Page 739 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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gemido, apontando para alguma coisa; depois cobriu o rosto com as mãos e
                  caiu pesadamente no chão. Tirian olhou na direção que ele havia apontado
                  e então compreendeu.

                         Uma figura terrível vinha vindo na direção deles. Era muito menor
                  do que a coisa que tinham visto da torre, embora fosse ainda muito mais
                  alta  que  um  homem.  Mas  era  a  mesma  criatura.  Tinha  uma  cabeça  de
                  abutre e quatro braços. O bico estava aberto e os olhos fumegavam. Um
                  grasnado rouco saiu-lhe do bico:

                         – Rishda Tarcaã, tu me chamaste para Nárnia. Aqui estou. O que tens
                  a dizer?

                         O tarcaã, porém, nem sequer ergueu o rosto do chão ou soltou uma
                  palavra. Tremia como uma vara verde. Numa batalha ele era corajoso de
                  verdade.  Contudo,  metade  da  sua  coragem  havia sumido  bem  mais  cedo
                  naquela  noite,  desde  que  começara  a  suspeitar  de  que  poderia  realmente
                  existir  um  Tash  de  verdade.  Agora,  o  restinho  da  coragem  tinha  ido
                  embora.
                         Com um movimento brusco (igual a uma galinha quando estaca de
                  repente para catar uma minhoca), Tash agarrou o pobre Rishda, enfiando-o
                  entre  os  dois braços  direitos.  Depois  virou  a  cabeça  para  o lado  fixando
                  Tirian com um dos seus pavorosos olhos: pois, naturalmente, como tinha
                  cabeça de ave, não podia olhar direto para ninguém.

                         No mesmo instante, porém, forte e tranquila como um mar de verão,
                  ouviu-se uma voz soar por detrás dele:

                         – Suma daqui, monstro! Volte para o seu lugar e carregue o que por
                  direito  lhe  pertence!  Em  nome  de  Aslam  e  do  Grande  Pai  de  Aslam,  o
                  Imperador-de-Além-Mar!

                         A horrenda criatura evaporou, ainda com o tarcaã debaixo do braço.
                  Tirian voltou-se para ver quem havia falado. E o que viu fez seu coração
                  disparar e bater como nunca havia batido em qualquer batalha.

                         Sete  reis  e  rainhas  estavam  parados  à  sua  frente,  todos  eles  com
                  coroas na cabeça e vestes resplandecentes; os reis, porém, usavam também
                  finas  cotas  de  malha  e  empunhavam  espadas.  Tirian  inclinou-se,  numa
                  reverência, e já ia falando quando a mais jovem das rainhas desatou a rir.
                  Ele a encarou firmemente e, de súbito, prendeu a respiração, atônito, pois a
                  conhecia. Era Jill! Não como ele a vira pela última vez, com o rosto todo
                  sujo e manchado de lágrimas, usando um velho vestido de brim com um
                  ombro meio de fora. Agora parecia calma e bem-disposta, limpa e fresca
                  como quem acaba de tomar um banho. E primeiro achou que ela parecia
                  mais velha, mas depois achou que não – e nunca conseguiu chegar a uma
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