Page 744 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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– Mas, onde está ela?

                         – Veja! – disse Pedro, apontando.

                         Tirian  olhou  e  viu  a  coisa  mais  estranha  e  ridícula  que  se  possa
                  imaginar. A apenas alguns metros de distância, completamente visível à luz
                  do sol, erguia-se uma porta de madeira e, ao redor dela, o umbral – nada
                  mais, nem paredes, nem telhado, nada. Atônito, Tirian encaminhou-se para
                  lá, seguido pelos outros, que ficaram olhando para ver o que ele ia fazer.
                  Tirian deu a volta para o outro lado da porta. Do lado de lá, era justamente
                  a mesma coisa: ele ainda estava ao ar livre, em uma manhã de verão. A
                  porta simplesmente erguia-se sozinha, como se tivesse crescido ali, igual a
                  uma árvore.

                         – Meu caro senhor – disse ele ao Grande Rei –, isto é simplesmente
                  espantoso!
                         – É a porta por onde você passou com aquele calormano há poucos
                  minutos – disse Pedro, sorrindo.

                         – Mas eu passei da floresta para dentro do estábulo, não foi? Esta
                  porta, no entanto, parece ir de nenhum lugar para lugar algum!

                         – É o que parece se você ficar aí a rodeá-la – disse Pedro. – Agora,
                  dê  uma  espiadinha  ali  por  aquela  fresta  que  há  entre  as  duas  tábuas  de
                  madeira.

                         Tirian encostou o olho no buraco. A princípio, nada conseguiu ver
                  além da escuridão. Mas, depois que seus olhos foram se acostumando ao
                  escuro, ele divisou a luz fraca e avermelhada de uma fogueira que estava
                  quase se apagando. Lá em cima via-se um céu negro coberto de estrelas.
                  Depois percebeu uns vultos que se moviam para lá e para cá, e havia outros
                  em  pé  entre  ele  e  a  fogueira.  Dava  para ouvi-los  conversando:  pareciam
                  vozes de calormanos. Então se deu conta de que estava olhando através da
                  porta do estábulo, para fora, na escuridão do Ermo do Lampião, onde se
                  dera sua última batalha. Os homens estavam discutindo se deveriam entrar
                  no estábulo à procura de Rishda Tarcaã (nenhum deles, no entanto, estava
                  disposto a fazer isso), ou se seria melhor atiçar fogo à cabana.

                         Tirian olhou à sua volta mais uma vez e mal pôde acreditar no que
                  via. Acima de sua cabeça havia um céu muito azul; à sua frente um imenso
                  gramado espalhava-se em todas as direções, até onde a vista alcançava; e,
                  ao redor, seus novos amigos, todos sorrindo.
                         – Quer dizer, então – disse Tirian para si mesmo –, que o estábulo
                  visto por dentro e o estábulo visto por fora são dois lugares completamente
                  diferentes?
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