Page 765 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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ziguezagueavam cachoeira acima, só se ouviam espirros e era uma bulha
                  tremenda à sua volta. Acontece que continuavam latindo, e cada vez que o
                  faziam ficavam com a boca e o focinho cheios de água. Antes, porém, que
                  Jill  tivesse  tempo  de  prestar  muita  atenção  a  esses  detalhes,  viu-se  ela
                  própria  subindo  pela  cachoeira.  Era  o  tipo  de  coisa  que  seria
                  completamente impossível de acontecer no nosso mundo. Mesmo que não
                  se afogasse, a gente acabaria toda estraçalhada lá embaixo, esmagada pelo
                  peso terrível das águas contra os incontáveis entalhes dos penhascos. Mas
                  naquele mundo, não. Você continuava subindo, subindo, com luzes de todo
                  tipo refletindo sobre você e toda sorte de pedras coloridas resplandecendo
                  através da água (como se você estivesse escalando a própria luz) – e isso
                  cada vez mais para cima, até que a sensação de altura o deixasse apavorado
                  (se isso fosse possível), e então era gloriosamente excitante.

                         Finalmente,  chegaram  à  agradável  e  suave  curva  verde  de  onde  a
                  água  despencava  rochedo  abaixo  e  descobriram  que  estavam  sobre  a
                  superfície  do  rio,  acima  da  cachoeira.  A  correnteza  continuava  às  suas
                  costas;  eles,  porém,  como  exímios  nadadores,  simplesmente  seguiam
                  nadando contra a correnteza. Em pouco tempo, todos estavam na margem,
                  ensopados mas felizes.

                         Um  imenso  vale  estendia-se  à  sua  frente,  e  grandes  montanhas
                  nevadas, agora muito mais próximas, erguiam-se contra o céu.

                         –  Continuem  avançando!  Mais  para  cima  e  mais  para  dentro!  –
                  exclamou Precioso. Num instante estavam todos a caminho novamente.
                         Encontravam-se  agora  fora  de  Nárnia,  em  pleno  deserto  ocidental,
                  numa  região  que  nem  Tirian,  nem  Pedro,  nem  mesmo  a  águia  jamais
                  haviam visto antes. Lorde Digory e Lady Polly, porém, já haviam estado lá.
                  “Você  se  lembra?  Você  se  lembra?”,  diziam  de  vez  em  quando  um  ao

                  outro, numa voz firme que não revelava o mínimo sinal de cansaço, embora
                  o grupo inteiro estivesse agora correndo mais rápido que uma flecha.
                         – O quê, senhor? ! – disse Tirian. – Então é mesmo verdade, como
                  dizem as lendas, que vocês dois estiveram aqui exatamente no dia em que o
                  mundo foi criado?

                         – É verdade – respondeu Digory. – E para mim é como se tivesse
                  sido ainda ontem.

                         – E isso num cavalo voador? – indagou Tirian.

                         – Isso também é verdade?
                         – Certamente – disse Lorde Digory.

                         Os  cães,  entretanto,  começaram  a  latir:  “Rápido!  Rápido!  Mais
                  rápido!”
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