Page 79 - Os Manuscritos do Mar Morto
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                  da  palavra  de  Deus,  dentro  do  qual  as  pessoas  aprendiam  de  memória  os  salmos  e

                  orações” (MESTERS, 2003:143, n. 45).
                         Em casa, as pessoas rezavam várias vezes por dia; normalmente de manhã, ao

                  meio-dia e à noite. Essa reza consistia na recitação de sentenças salmódicas como as
                  tefillot,  um  conjunto  de  orações  proferidas  nas  sinagogas  nos  dias  de  Jesus.  Note  a

                  primeira das Dezoito Bênçãos da oração:



                                          Sê bendito, Senhor nosso Deus e Deus de nossos pais, Deus de Abraão, de
                                          Isaac e Deus de Jacó, Deus grande e forte e venerado, Deus excelso, que dás
                                          a recompensa e crias todas as coisas; lembra-te da piedade dos pais e faz
                                          que o redentor venha para os filhos dos seus filhos, em favor do teu Nome,
                                          com amor. Rei libertador, que ajudas, salvas e defendes. Sê bendito Senhor,
                                          escudo de Abraão (Benção nº. 1. Trad. de Di Sante).


                         Este conjunto de orações recebe um outro nome bastante conhecido, Shemoneh

                  Esreh, que em hebraico significa dezoito, o número de bênçãos contidas na oração. 55
                                            56
                         Junto com o Shemá  e a utilização de salmos bíblicos, estes textos compunham
                  o dia-a-dia litúrgico do povo judeu. Assim, com repetições contínuas de orações, textos
                  sagrados  e  hinos;  as  pessoas  aprendiam  e  memorizavam  os  preceitos  da  fé  judaica.

                  Qualquer membro de uma família judaica que nascia nesse ambiente considerava isso

                  como  parte  de  seu  modus  vivendi,  uma  escola  cotidiana  de  preceitos  que  ditavam  o
                  comportamento do indivíduo.  Jesus, por exemplo, é descrito pelos evangelistas  como

                  alguém ligado a estas práticas. Certamente, as orações e as bênçãos que Jesus promoveu

                  (e.g. Mc 1:35; 10:16; Lc 9:16; 24:30), por mais que fossem revestidas de expressões
                  individuais,  remetiam  a  uma  base  comum  conhecida.  Além  de  realizar  isso  a  nível

                  individual,  ele  participava  semanalmente  dessas  no  âmbito  da  sinagoga  ou  ainda  em
                  eventos de maior envergadura como os efetuados no Templo. Utilizando-se da síntese

                  de Mesters:



                                          Foi naquele contexto  familiar  e comunitário, impregnado  pela  oração  dos
                                          salmos, e na convivência com pessoas  como  aquelas descritas por  Lucas,

                  55
                    Recebendo ainda um terceiro nome, Amidah (do verbo ‘amad, “manter-se em pé”. Por isso, a oração é
                  recitada pelo orante estando em posição ereta.), o Shemoneh Esreh é uma coleção de bênçãos recitada
                  durante os três serviços diários de orações judaicas (manhã, shacharit; tarde, mincha; e noite: maariv).
                  Apesar do nome, a oração possui atualmente 19 bênçãos, tendo sido incluída a décima segunda, Contra os
                  Heréticos (birkat ha-minim), no conselho de Jâmnia (c.90/100 d.C).
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                    O Shemá vem da expressão shem‘a Isra’el (“Ouve, ó Israel”), encontrada em Dt 6:4-9. A recitação das
                  palavras do Shemá eram feitas diariamente, “estando no leito (ao deitares), e ao levantar-te” (v. 7, Bíblia
                  Sagrada Edições Paulinas). Ou seja, a leitura do Shemá faz parte do rol diário de orações, sendo recitado à
                  noite e pela manhã segundo o mandamento bíblico. A resposta de Jesus em Mc 12:29, parece ser uma
                  citação explícita ao Shemá.
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