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Enclausurada
Atualmente, somos obrigados a conviver com um problema que afeta todas as pessoas do mundo a nível físi-
co, social, económico e psicológico. Somos obrigados a conviver com a Covid-19, doença esta que foi responsável
por virar a nossa vida de cabeça para baixo.
No início, pensei que este maldito vírus nunca fosse chegar a Portugal, contudo, enganei-me redondamente. Os
primeiros casos chegaram a Portugal e lembro-me como se fosse ontem. Lembro-me do desprezo que dei à situa-
ção. No fundo, eu já estava com medo, no entanto, decidi enganar-me a mim mesma e fingi que estava tudo bem.
Recordo-me também da grande preocupação da minha mãe em relação a este assunto. Na altura, pensei que fos-
se um exagero, contudo, mais tarde, acabei por perceber a aflição da minha mãe.
Já se passou mais ou menos um ano desde que estamos a lidar com esta Pandemia e sinto que este último ano
foi um importantíssimo período de reflexão para mim. Estive duas vezes de quarentena, algo que pensei que nun-
ca iria acontecer, mas aconteceu. Neste último ano, percebi que o coronavírus pode magoar-nos fisicamente e isso
é evidente, mas também percebi que pode afetar-nos ainda mais a nível psicológico devido ao isolamento social.
Quando estava fechada em casa, sentia-me como um pássaro, mas não como aqueles pássaros que voam li-
vremente. Sentia-me como um pássaro em gaiola, preso e impedido de voar e de viver. Foram tempos de muita
solidão. Toda esta mudança de vida foi um grande choque para todos nós. Num dia, estamos a conviver com os
nossos amigos, e no outro somos proibidos de estar perto dos de quem amamos.
O tédio consumiu o meu quarto por muito tempo e a única coisa que eu conseguia ouvir era a minha respiração.
Vi-me obrigada a procurar passatempos, como por exemplo tocar ukulele ou ler um livro. Claro que foi bom ter algo
com que me entreter, no entanto, hoje em dia, reflito sobre o assunto e apercebo-me que a ocupação do meu tem-
po foi apenas uma espécie de refúgio para conseguir evitar a convivência comigo mesma. O autoconhecimento é
difícil, mas é necessário. Afinal, de que adianta viver, se não conhecemos a pessoa que vemos no espelho todos
os dias?
Durante este tempo de clausura, tive um misto de sentimentos. Tive medo que algum dos meus familiares e
amigos fossem vítimas deste vírus. Senti-me frustrada, pois é extremamente difícil saber que existe um problema e
que a resolução desse problema não depende só de mim. Depende de todos nós. Também fiquei enraivecida, por-
que enquanto eu e muitos outros portugueses estávamos fechados em casa a fazer o nosso papel para que tudo
voltasse à normalidade, havia umas quantas pessoas que ignoravam completamente o momento difícil pelo qual
estávamos a passar e desrespeitavam todas as regras de segurança. Tinha saudades de sair de casa, de ver ou-
tras pessoas, de estar com os meus amigos, da escola… No fundo tinha saudades de viver. O arrependimento
também tomou conta de mim e sinto que finalmente aprendi a dar valor às pequenas coisas da vida.
Aprendi a dar valor a um simples sorriso, a um simples abraço, a uma simples gargalhada… Aprendi a dar valor
aos raios de sol que aquecem a nossa cara num dia de calor. Aprendi a dar valor ao vento que nos refresca e aos
passeios perto do rio. Aprendi a dar valor à vida.
Quando saía de casa para despejar o lixo ou simplesmente para apanhar um pouco de ar, olhava ao meu redor
e não via nada nem ninguém. Por momentos sentia-me num apocalipse. A cidade que há uns tempos era cheia de
vida, alegria, movimentação e barulho, tornou-se numa cidade morta, completamente deserta. As únicas pessoas
que vagueavam pela rua eram os sem-abrigo. Pobres, famintos, sujos e extremamente tristes, faziam-me dar valor
à minha situação atual que, apesar de não ser das melhores, também não era das piores.
Viver isolada do mundo, para mim, não é viver, mas sim sobreviver. Sinto que esta maldita pandemia veio rou-
bar os melhores anos da minha vida e eu não posso fazer nada para mudar esta situação. Perdi a oportunidade de
estudar em regime presencial, o que dificultou bastante as minhas aprendizagens. Perdi a oportunidade de estar
com os meus amigos e de conhecer pessoas novas. Neste momento sou uma aluna de 12.º ano que não vai ter
viagem de finalistas nem baile de finalistas, o que é bastante triste. Nunca estive tão cansada de descansar.
Uma das grandes lições que aprendi com tudo isto foi o facto de que o presente é uma dádiva e devemos apro-
veitá-lo sempre. Muitas vezes, vivemos a pensar no amanhã e acabamos por não aproveitar o hoje. O ditado: ‘’Não
deixes para amanhã o que podes fazer hoje’’ nunca fez tanto sentido na minha cabeça como faz, nos dias de hoje.
O que nos resta agora é ter fé. A nossa vida é feita de fases, umas boas e outras não tão boas, mas todas elas
passam. Tudo na vida passa e este momento não é exceção.
Mariana Oliveira, n.º 19, 12.º CT3
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