Page 3 - HOLOCAUSTO
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Quatro  metros  por  pouco  mais  de  dois  e  meio,  sem  outra  abertura  que  a  entrada,
                  defendia  esta por duas grades separadas  pela grossura da parede.  Da parte de fora
                  ainda a porta de madeira, no alto da qual, um caixilho vão dava passo ao ar e a luz
                  escassa, que através do corredor vinha das janelas fronteiras. O teto era de abóbada
                  caiado, guarnecido de florões pretos, nos quais se dissimulavam as frechas por onde os
                  espiões, de cima , estendidos no forro, vigiavam os prisioneiros”.
                           “No solo de ladrilhos”, continua Lúcio d'Azevedo, “alfaias, um estrado e sobre
                  ele o colchão que trazia o preso, uma esteira de tábua, o cântaro da água e uma vasilha
                  para  os  despejos,  de  que  uma  vez  por  semana  se  fazia  a  limpeza.  Imagine-se  de
                  atmosfera  semelhante  e  o  descômodo  de  quem  ainda  naqueles  tempos  de  asseio
                  minguado tinha de o respirar. À roda, silêncio de sepulcro: era proibido falar alto e, de
                  qualquer modo, buscar comunicação com os detidos em outras celas. A infração punia-
                  se com rigor, e então quebrava o calado do recinto o estalado dos açoites, citando o
                  regulamento,  para  ser  ouvidos  por  todos:  Justiça  que  mandam  fazer  os  senhores
                  inquisidores em um preso que ofendeu o regulamento".
                           "Esquecidos"  nos  porões  do  tribunal  eram  proibidos  de  receber  visitas,
                  escrever ou receber cartas, apenas saindo periodicamente para participar dos "autos
                  de  fé",  em  procissões,  vestindo  o  sambenito,  (vestes  amarelas)  com  fitas  vermelhas,
                  exibidas  para  o  escárnio  do  público, da  Corte  e  autoridades  eclesiásticas.  Os  que  se
                  destinavam  à  fogueira,  os  "Relaxados  em  Carne",  levavam  hábitos  com  mefistos
                  pintados, e seus nomes escritos para poderem ser lidos às portas das igrejas, após a
                  execução.

                                                      O SAMBENITO

                           Os  condenados  a  viverem  em  local  designado  pelo  Tribunal,  geralmente  em
                  uma aldeia distante de Portugal, e tendo que se apresentar periodicamente ao Santo
                  Ofício  eram  obrigados  a  usarem  o  “sambenito”  ou  “hábito  penitencial”,  espécie  de
                  roupão  com  uma  cruz  amarela  de  Santo  André.  Síntese  do  escárnio  a  que  ficavam
                  submetidos  os  sentenciados,  esta  pena  podia  ser  perpétua  ou  ao  arbítrio  dos
                  inquisidores. Figuras desenhadas ao “sambenito” com “insígnias de fogo” indicavam a
                  resistência  dos  réus  em  confessar  seus  delitos,  e  não  poderiam  ser  suspensas.  As
                  penalidades para homens ou mulheres, poderiam se estender também ao degredo em
                  terras distantes, ou para os homens o trabalho forçado nas galés.

                                                        O SEGREDO

                           O sigilo era para o Santo Ofício, uma das Leis mais importantes destinadas a
                  manter o controle de suas ações. Na clausura das masmorras, torturados, torturadores,
                  carcereiros,  meirinhos,  médicos  e  espiões,  juravam  com  a  mão  sobre  o  evangelho,
                  manter  segredo  de  tudo  o  que  sofreram,  viram  ou  ouviram.  O  degredo  e  os  açoites
                  eram as penas aplicadas aqueles que violassem esse código.
                           Além  do  corpo  de  profissionais  que  serviam  ao  Santo  Ofício,  existiam  as
                  cristaleiras. “Mulheres dedicadas a aplicar clisteres aos doentes. Para efetuarem suas
                  funções,  as  cristaleiras  –  espécie  de  enfermeira  que  fazia  lavagem  intestinal  nos
                  prisioneiros  enfermos  –  frequentemente  trabalhavam  nas  prisões.  Como  todos  os
                  outros elas faziam o juramento de jamais revelar a qualquer pessoa as coisas que se
                  passavam dentro dos domínios inquisitoriais”. Recrutadas das camadas paupérrimas



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