Page 8 - HOLOCAUSTO
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primeiros cinquenta e cinco convidados e confessando sua própria aceitação ao
judaísmo. Relacionou também mais vinte quatro conhecidos que praticavam a lei de
Moisés, envolvendo idosos e até adolescentes. Ajudou tanto os inquisidores, que em
1710 foi recebida no grêmio da Santa Madre Igreja, "abjurando de seus erros,
condenada a cumprir penas e penitências espirituais, e isso sem sequestro de seus
bens".
Com a penúria do erário rondando o trono português no início desse século, o
Tribunal recebeu plena liberdade concedida por D. João V, para exercer mandado de
prisão e confisco de bens da comunidade judaica fluminense, beneficiada com o novo
filão que despontava nas ricas minas de ouro.
No Rio de Janeiro, o centro do comércio do ouro concentrava-se na Rua dos
Ourives que, contornando o morro do Castelo, era ponto de referência dos israelitas,
constantemente acusados como suspeitos de "desviarem os quintos, favorecendo a
fraude e o contrabando".
Por ocasião da invasão francesa no Rio de Janeiro comandados por Duguay-
Trouin em 1711, dezenas de judeus foram libertados das masmorras do convento, no
morro do Castelo. Em um trecho da carta enviada para Lisboa nessa ocasião,
Monsenhor Pizarro cita o cidadão português Manoel de Vasconcelos Velho:
"Esquecia-me de dizer-lhe a quantidade de gente que se havia preso pelo Santo Ofício,
que cuido passam de cem pessoas, e por não individuá-las digo que é o resto dos
cristãos novos que v. m. já conhecia, os quais com a invasão francesa foram buscar sua
vida, e ainda andam espalhados, e andarão até haver navio e ocasião". Descreve
também o desespero de José Gomes da Silva, agarrado ao pavilhão da França e
fugindo com os invasores. Sua filha Catarina Marques, após ser presa no lugar do pai,
"é mandada para Lisboa onde, depois de meio século de torturas, morre, aos sessenta e
oito anos, nos cárceres da Inquisição".
Jonas Finck, tipógrafo e missionário evangélico, havia recebido a missão de
montar uma tipografia na Índia, promovida por duas Sociedades: inglesa e alemã,
destinadas a divulgar em diferentes partes do mundo, a bíblia e a literatura cristã.
Acompanhado de uma prensa, material de impressão e “250 cópias do Evangelho de
São Mateus, deixou a Inglaterra entre abril e maio de 1711” chegando ao Rio de
Janeiro em agosto do mesmo ano.
Presenciando o desembarque dos franceses comandados por Du Guay, diz que
foram “3.500 soldados dividindo-os entre uma pequena ilha, de um lado da cidade e a
terra firme, do lado oposto. Quanto a nós, não tivemos tempo nem de levantar âncora;
o Capitão Austin mandou que os cabos fossem cortados e que o navio, o mais rápido
possível, fosse removido para longe do fogo inimigo”. Afastando-se para o fundo da
baia de Guanabara, cerca de “quatro milhas da frota francesa”.
Alguns dias antes dessa invasão, o tipógrafo narra nessa carta endereçada ao
capelão do Rei Frederico VI, que após ”lançar âncora” na baia de Guanabara, foi
convidado pelo governador para acompanhá-lo à cidade. “Como o senhor bem sabe,
aqui, como em qualquer território português, a inquisição é flagrante e o povo tão
subjugado pela autoridade de Roma, que todo o cuidado é pouco. Quando da nossa
chegada, cerca de cem indivíduos estavam sendo enviados para Portugal, onde seriam
julgados pelo Tribunal do Santo Ofício. A maioria deles era suspeita de “judaísmo”. A
respeito disso ocorreu-me a ideia de distribuir entre eles umas cópias em português, do
evangelho de São Matheus”.
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