Page 7 - HOLOCAUSTO
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do senhor de engenho Agostinho de Paredes, "era senhor de engenho em Meriti, com
                  escravos,  boa  fábrica,  e  sem  gados".  Nesta  Freguesia  João  Correia  Ximenes  ergueu
                  uma  capela,  dedicada  a  Nossa  Senhora  da  Conceição,  antes  de  1708,  “no  porto  da
                  Freguesia.”
                           “Cerca  de  30  senhores  de  engenhos  foram  denunciados  ou  presos  nesta
                  paróquia,”  diz  Lina  Gorenstein:  "vários  desses  senhores  eram  aparentados"  com
                  proprietários de outros engenhos que se aninhavam nos vales do Meriti, Irajá, Sarapuí,
                  Iguaçu  e  em  Jacarepaguá,  aliados  com  os  lavradores  "de  partido",  membros  da
                  família, ou "da nação".  Esses lavradores arrendavam terras para o plantio de cana ou
                  mandioca  e  usavam  o  engenho  do  proprietário  para  moagem,  deixando  como
                  pagamento parte de sua colheita.

                                                                      O "VENDAVAL"

                           O bispo D. Francisco de S. Jerônimo chegou ao Rio de Janeiro em 1702, com a
                  missão  de  executar  as  determinações  do  Santo  Ofício.  Ponto  de  referência  para  a
                  chegada do ouro que começava a despontar nas minas, as primeiras ordens de prisão
                  começaram a serem cumpridas em 1703, destinados aos irmãos Alexandre Henriques e
                  Duarte Rodrigues Nunes, mercadores "penitenciados em Lisboa no auto-de-fé em 19
                  de outubro de 1704". Durante menos de trinta anos, mais de trezentas pessoas foram
                  presas sem serem exatamente "novos", mas por que descendiam de judeus. O caráter
                  econômico era o evidente objetivo dessas perseguições. Quando era emitida uma ordem
                  de  prisão,  "no  próprio  documento  havia  a  ordem  de  sequestro  de  todos  os  bens  do
                  acusado".
                           Com  o  início  dessas  detenções,  as  evasões  se  efetuavam.  "Em  1705  o
                  governador do Rio de Janeiro, D. Álvaro da Silveira de Albuquerque escreveu para
                  Portugal falando sobre os cristãos novos que começavam a fugir da Província".
                           Famílias inteiras foram destruídas literalmente, ou envolvidas num labirinto
                  de acusações mútuas, condenadas ao desterro dos cárceres. Em 1708 foram presos e
                  enviados  para  Lisboa  sete  moradores:  "um  senhor  de  engenho,  um  homem  de
                  negócios,  um  mercador  juntamente  com  suas  esposas  e  ainda  um  médico.  Todos  da
                  mesma família".
                           Antes  de  prosseguirmos  procurando  relatar  mais  alguns  capítulos  dessa
                  página negra da Igreja Católica, fruto de sua intolerância religiosa, sede de poder e
                  riqueza,  que  se  abateu  sobre  a  humanidade  como  uma  ave  de  rapina,  sentida  tão
                  devastadora  em  nossa  região,  quero  falar  sobre  Catarina  Soares  Bradoa,  que  ficou
                  conhecida entre os  “cristãos novos”  como "a Perra" (a cadela), "nascida no reino e
                  ignorante dos usos e ritos do judaísmo", era uma das convidadas para o casamento da
                  filha  de  José  Gomes  da  Silva,  cristão  novo,  "contratador  dos  dízimos  do  tabaco",
                  Catarina Marques com Manoel de Paredes, na famosa "bodas de Irajá". Questionada
                  pelos convivas sobre sua sinceridade em ter livre trânsito entre a comunidade judaica,
                  foi convidada a aceitar a lei de Moisés e seguir certos preceitos como: não comer certos
                  alimentos, jejuar em dias sagrados e adotar os costumes da seita.
                           Catarina aceitou essa conversão "ainda que ligeira e superficial". Passaram-se
                  os anos, mas  aquela lembrança "das  bodas"  mantiveram-se  em sua   memória.  Ao
                  sentir-se  ameaçada  com  as  perseguições,  iniciada  pelas  prisões  que  se  seguiram  às
                  delações, antecipou-se viajando para Portugal e apresentando-se no Tribunal do Santo
                  Ofício  em  1706,  para  denunciar  o  que  acontecera  naquele  casamento,  apontando  os



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