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E foi assim que passaram por ele, sem ele perceber, as notícias cada vez mais
alarmantes de distúrbios sociais cuja origem parecia ser a comunidade Yana.
Como um veneno de ação lenta, mas devastadora, começaram como rumores
e foram crescendo e se encorpando até se transformarem de simples suspeitas
e falatórios em denúncias sobre o envolvimento do Clube Internacional de
Havanófilos em um terrível crime.
O estopim da crise foi o aparecimento de um cadáver terrivelmente mutilado
nas escadarias da principal entrada da sede dos havanófilos.
O corpo foi encontrado por garis que chegavam para o trabalho e percorriam
o parque em que se erguia o casarão, às primeiras horas da manhã de um
sábado e véspera de uma das ocasiões mais badaladas da instituição, o
tradicionalíssimo jantar dançante anual para a comemoração do aniversário
de fundação do Clube.
A notícia se espalhou como fogo seguindo uma trilha de pólvora.
Terra Alta se curvou horrorizada para observar mais de perto e com atenção
redobrada seu mais respeitado ícone da moral da sociedade terraaltina, um
perfeito baluarte do correto, do justo, do honesto e do admirável,
repentinamente envolto em espessas nuvens de suspeitas.
E o passar das horas e dos dias piorou muito as coisas, pois não foi apresentada
uma explicação completamente aceitável para a presença daquele cadáver às
portas da entrada principal do Clube e nem uma versão razoavelmente
coerente inocentando a instituição pela macabra aparição nos seus degraus.
Nada que distanciasse os havanófilos de qualquer envolvimento ou
responsabilidade por aquela morte totalmente, completamente,
vergonhosamente criminosa, que berrava o ilícito com o simples se olhar para
ela.