Page 259 - Girassóis, Ipês e Junquilhos Amarelos - 13.11.2020 com mais imagens redefinidas para PDF-7
P. 259
Ao contrário, havia rumores fortes de que a pessoa morta havia sido
empregada do Clube e ligada incontestavelmente aos seus mais importantes
membros.
Formou-se um escândalo inevitável e histérico que começou a crescer como
fervura de enxofre e venceu as barreiras das autoridades e dos limites do Clube
e de seu prestígio e se derramou e se espalhou pelas ruas, pelas praças e por
cada casa e canto da cidade e empestou as mentes e agitou as neuroses e
provocou o frenético contorcer-se de uma sociedade ferida no seu âmago que
explodiu buscando culpados sobre quem distribuir sua dor.
A nata da sociedade terraaltina se viu mergulhada num mar de denúncias e
suspeitas que tomavam rapidamente um caráter consideravelmente mais
sinistro ao surgirem evidências assustadoras do envolvimento de crianças com
o uso de uma droga específica, encontrada no cadáver e cuja procedência tinha
raízes na antiga suspeita de décadas atrás, sobre a manufatura e
comercialização de drogas pela comunidade Yana. E as manchetes eram, a
cada dia, mais sensacionalistas e toda a mídia adotou para o caso o rótulo de
crime hediondo.
Não se falavam em prisões, mas as investigações faziam uma longa lista de
suspeitos que estavam sendo intimados a prestar esclarecimentos,
depoimentos e sendo impedidos de deixar o país. A grande maioria dos
investigados fazia parte da elite local e, todos, de alguma maneira, eram
ligados ao Clube Internacional de Havanófilos.
A cidade de Terra Alta se revolvia nas ruínas de uma inegável decadência
moral.
E uma vez mais Victor Gatopardo era provocado a se pronunciar, a se interpor
contra a histeria, fazendo valer um resquício de bom senso.
E embora distante de tudo, mal compreendendo o que se passava, Cesar sentia
a aflição de Victor como uma espécie de eco no mais profundo de si mesmo e