Page 312 - Girassóis, Ipês e Junquilhos Amarelos - 13.11.2020 com mais imagens redefinidas para PDF-7
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esperados com o mínimo esforço, o índio guiou Cesar por conhecimentos e
                      costumes antigos e valiosos. Com isso, os dias se seguindo aos dias no viver da
                      vida nas montanhas fez a mágica de amalgamar o espírito de Cesar ao espírito
                      dos Andes.


                      Até que finalmente Cesar se percebeu como parte integrante e atuante da
                      natureza. Conseguia senti-la e entendê-la, conseguia ser e apoderar-se da sua
                      força tranquila e mergulhar no seu profundo silencio e paz.

                      Nos  dias  que  se  seguiram  caminharam  cada  vez  mais  para  o  norte,  se
                      afastando de qualquer trilha conhecida, se embrenhando deserto à dentro.
                      Entregues  aos  cuidados  tão  somente  da  vida.  Confiantes  na  sua  própria
                      integração ao entorno e ao fluxo natural.

                      Sua caminhada os levou aos pés do vulcão adormecido Calla Hoayra e ali
                      acamparam para esperar a permissão da montanha para a subida.


                      O velho índio contou a Cesar sobre o mistério daquele lugar. Apenas mais um
                      entre  os  milhares  de  mistérios  do  deserto  e  da  enorme  cordilheira.  E  a
                      narrativa,  seguindo  a  tradição  dos  ensinamentos  passados  oralmente,  era

                      intitulada “flutuar na correnteza do rio” porque tinha a virtude de levar o
                      ouvinte a um estado alterado de consciência, cujas sensações simulavam o
                      flutuar  sobre  águas  mansas  e  relaxantes,  num  fluxo  ininterrupto  de

                      conhecimento  e  provocado  através  dos  sons  das  palavras  exatas  e
                      cuidadosamente reproduzidas na sequência e ritmo certos para a emanação
                      de um mantra sagrado, que induzia a esse estado consciencial especial.

                      A  história  contada  pelo  velho  indígena  exatamente  como  o  fora  sempre,
                      passada de geração em geração há milhares de anos, obedecia a uma cadência
                      calma com algumas ênfases em palavras específicas, pausas pequenas após
                      outras longas e diferentes modulações do início ao fim e foi se integrando de
                      tal maneira a sons do entorno, aos pequenos estalidos do vento quente sobre
                      a areia e suas infinitas pedrinhas e o minúsculo assobiar sobre as ondulações
                      nas dunas e o balouçar das folhinhas rasteiras da vegetação rústica ao pé da
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