Page 45 - Microsoft Word - FRIEDRICH NIETZSCHE - O Livro do Filosofo.doc
P. 45

96

              O choque, a ação de um átomo sobre o outro, pressupõe também a
       sensação. Algo de estranho em si não pode agir sobre outro.

              Não o despertar da sensação, mas o da consciência no mundo é o
       que há de difícil. Mas ainda explicável se tudo possui uma sensação.

              Se tudo possui uma sensação, teremos uma confusão de centros de
       sensações muito pequenos, maiores e muito grandes. Esses complexos de
       sensações, maiores ou menores, devem ser chamados "vontades".

              Dificilmente nos desfazemos das qualidades.


                                         97


              Sensação, movimentos reflexos, muito freqüentes e sucedendo-se
       com a velocidade do relâmpago, animando-se progressivamente, produzem
       a operação do raciocínio, isto é, o sentimento de causalidade. Do sentido
       da causalidade dependem o espaço e o tempo. A memória conserva os
       movimentos reflexos realizados.

              A consciência começa com o sentido da causalidade, quer dizer que
       a memória é mais velha que a consciência. Por exemplo, na planta mimosa
       temos a memória, mas não a consciência. Memória naturalmente sem
       imagem nas plantas.

              Mas a memória deve então pertencer à essência da sensação,
       portanto, ser uma propriedade original das coisas. Mas então também o
       movimento reflexo.

              A inviolabilidade das leis da natureza significa, portanto: sensação
       e memória estão na essência das coisas. Que ao contato com outra, uma
       substância material se decida justamente assim, tem a ver com memória e
       sensação. Ela o aprendeu em dado momento, dito de outra forma, as
       atividades das substâncias materiais são leis em transformação. Mas a
       decisão deve então ter sido tomada por intermédio do prazer e do
       desprazer.
   40   41   42   43   44   45   46   47   48   49   50