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Mas se prazer, desprazer, sensação, memória, movimento reflexo,
pertencem à essência da matéria, então o conhecimento do homem penetra
muito mais profundamente na essência das coisas.
A lógica inteira se resolve, pois, na natureza por um sistema de
prazer e de desprazer. Cada um procura seu prazer e foge do desprazer,
essas são as leis eternas da natureza.
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Todo conhecimento é medida para uma escala. Sem uma escala,
isto é, sem alguma restrição, não há conhecimento. No domínio das formas
intelectuais, acontece o mesmo se eu interrogar sobre o valor do
conhecimento em geral: devo tomar uma posição qualquer que se situe
mais alto ou que pelo menos seja fixa para servir de escala.
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Se conduzirmos todo o mundo intelectual à excitação e à sensação,
essa percepção muito indigente esclarece o menos possível.
A proposição: "não há conhecimento sem conhecedor, ou não há
sujeito sem objeto e não há objeto sem sujeito", é inteiramente verdadeira,
mas da mais extrema trivialidade.
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Não podemos dizer nada da coisa em si, porque nos privamos na
base do ponto de vista do conhecedor, isto é, do medidor. Uma qualidade
existe para nós, medida para nós. Se retirarmos a medida, o que será ainda
a qualidade?
É somente por intermédio de um sujeito medindo, colocado ao
lado das coisas, que é necessário demonstrar o que são essas coisas.
Suas qualidades em si não nos dizem respeito, mas suas qualidades
enquanto agem sobre nós.