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Agora é necessário perguntar: como se produziu semelhante ser
medidor? A planta é também um ser medidor.
O prodigioso consenso dos homens a respeito das coisas demonstra
a completa similaridade de seu aparelho sensorial.
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Para a planta, o mundo é tal e tal; para nós, tal e tal. Se
compararmos as duas forças de percepção, nosso conceito do mundo vale
para nós corno sendo mais justo, isto é, como correspondendo mais à
verdade. Ora, o homem se desenvolveu lentamente e o conhecimento
continua a se desenvolver: a imagem do mundo se torna, portanto, sempre
mais verdadeira e completa. Naturalmente, não passa de um reflexo de
espelho, um reflexo sempre mais claro. O próprio espelho não é totalmente
estranho nem sem relação com a essência das coisas, mas ele também
nasceu lentamente, enquanto igualmente essência das coisas. Vemos um
esforço para tornar o espelho cada vez mais adequado: a ciência continua o
processo natural. Assim, as coisas se refletem de uma forma sempre mais
pura: libertação progressiva daquilo que é demasiado antropomórfico. Para
a planta, o universo inteiro é planta; para nós, é homem.
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A marcha da filosofia: primeiramente se pensa que os homens são
os autores de todas as coisas — pouco a pouco as coisas são explicadas
segundo a analogia com certas propriedades humanas — finalmente se
chega à sensação. Grande problema: a sensação é um fato original de toda
matéria? Atração e repulsão?
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O instinto do conhecimento em matéria de história — sua
finalidade: conceber o homem no devir, aqui também suprimir o milagre.
Esse instinto extrai do instinto da civilização sua maior força: o
conhecimento é exuberância no estado puro, dessa forma a civilização
atual em nada se torna superior.