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jogou fora a chave: infeliz da curiosidade fatal que gostaria de olhar
       através de uma fenda, bem longe e fora do quarto da consciência e poderia
       pressentir então que é no que é impiedoso, ávido, insaciável, assassino, que
       se baseia o homem na indiferença de sua ignorância, agarrado ao sonho
       como ao dorso de um tigre. De que lugar, pelos diabos, poderia vir nesta
       constelação o instinto da verdade!

              À medida que, diante dos outros indivíduos, o indivíduo quer se
       conservar, na maioria das vezes é somente para a dissimulação que ele
       utiliza o intelecto numa situação natural das coisas: mas como o homem,
       ao mesmo tempo por necessidade e por tédio, quer existir social e
       gregariamente, tem necessidade de concluir a paz e procura, de acordo com
       isso, que pelo menos desapareça de seu mundo o mais grosseiro bellam
       omnium contra omnes (guerra de todos contra todos). Esta conclusão de
       paz traz com ela algo que se assemelha ao primeiro passo em vista da
       obtenção desse enigmático instinto de verdade. Quer dizer que está agora
       fixado o que doravante deve ser "verdade", o que quer dizer que se
       encontrou uma designação das coisas uniformemente válida e obrigatória e
       a legislação da linguagem fornece até mesmo as primeiras leis da verdade:
       de fato, aqui nasce pela primeira vez o contraste entre a verdade e a
       mentira.

              O mentiroso faz uso das designações válidas, as palavras, para fazer
       com que o irreal apareça como real: diz, por exemplo, "sou rico", quando,
       para seu estado, "pobre" seria a designação correta. Mede convenções
       firmes por meio de substituições voluntárias ou inversões de nomes. Se
       fizer isso de forma interessada e sobretudo prejudicial, a sociedade não lhe
       dará mais confiança e desde então vai excluído. Os homens não fogem
       tanto do fato de serem enganados quanto o fato de levarem prejuízo em
       virtude do logro: no fundo, a esse nível, não odeiam portanto a ilusão, mas
       as conseqüências desagradáveis e hostis de certas espécies de ilusão. É
       apenas num sentido tão restrito como este que o homem quer a verdade:
       ele ambiciona as conseqüências agradáveis da verdade, aquelas que
       conservam a vida; para com o conhecimento puro e sem conseqüência é
       indiferente, para com as verdades prejudiciais e destrutivas ele está até
       mesmo hostilmente disposto. E além disso: o que são essas convenções da
       linguagem? São talvez testemunhos do conhecimento, do sentido da
       verdade? As designações e as coisas coincidem? A linguagem é a
       expressão adequada de todas as realidades?
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