Page 49 - História de uma Gaivota e do Gato que a ensinou a voar
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deixarem sob um tecto de garras, miaram o ritual do baptismo dos gatos
do porto.
- Nós te saudamos, Ditosa, amiga dos gatos!
- Ahoi! Ahoi! Ahoi! - exclamou, feliz, Barlavento.
CAPÍTULO SEXTO
Ditosa, na verdade ditosa
Ditosa cresceu depressa, rodeada do carinho dos gatos. Um mês
depois de viver no bazar de Harry, era uma jovem e esbelta gaivota de
sedosas penas cor de prata.
Quando alguns turistas visitavam o bazar, Ditosa, seguindo as
instruções de Colonello, ficava muito quieta entre as aves embalsamadas
simulando ser uma delas. Mas à tarde, quando o bazar fechava e o velho
lobo do mar se retirava, deambulava com o seu passo bamboleante de
ave marinha por todas as salas, maravilhando-se diante dos milhares de
objetos que por lá havia, enquanto Sabetudo consultava e tornava a
consultar livros à procura de um método para Zorbas a ensinar a voar.
- Voar consiste em empurrar o ar para trás e para baixo. Claro! Já
temos alguma coisa importante - murmurava Sabetudo de nariz enfiado
nos livros.
E porque é que hei de voar? - grasnava Ditosa com as asas muito
coladas ao corpo.
- Porque és uma gaivota e as gaivotas voam - respondia Sabetudo. -
Parece-me terrível, terrível!, não saberes.
- Mas eu não quero voar. Também não quero ser gaivota - discutia
Ditosa. - Quero ser gato, e os gatos não voam.
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