Page 45 - História de uma Gaivota e do Gato que a ensinou a voar
P. 45
acusou a ratazana.
- Egoístas! Egoístas! - repetiram as outras ratazanas.
- Como bem sabes, liquidei mais ratazanas que os pêlos que tenho no
corpo. Se se passar alguma coisa com o passarito, têm as horas contadas
- avisou Zorbas serenamente.
- Ouve lá, bola de sebo, já pensaste em como sair daqui? Podemos
fazer contigo um bom puré de gato - ameaçou a ratazana.
- Puré de gato! Puré de gato! - repetiram as outras ratazanas.
Então Zorbas saltou sobre o chefe das ratazanas. Caiu-lhe sobre o
lombo, prendendo-lhe a cabeça com as garras.
- Estás quase a perder os olhos. É possível que os teus sequazes façam
de mim puré de gato, mas tu não vais chegar a ver isso. Deixam em paz
o passarinho? - ameaçou Zorbas.
- Mas que maus modos tu tens. Está bem. Nem puré de gato nem puré
de passarinho. Tudo se pode negociar nas cloacas - aceitou a ratazana.
- Então negociemos. Que pedes tu em troca de respeitar a vida do
passarito? - perguntou Zorbas.
- Passagem livre pelo pátio. O Colonello ordenou que nos cortassem o
caminho para o mercado. Passagem livre pelo pátio - chiou a ratazana.
- De acordo. Podem passar pelo pátio, mas de noite, quando os
humanos não as vêem. Nós, gatos, temos de zelar pelo nosso prestígio -
acentuou Zorbas soltando-lhe a cabeça.
Saiu da cloaca a recuar, sem perder de vista nem o chefe das ratazanas
nem os olhos vermelhos que, às dúzias, o olhavam com ódio.
Página 45