Page 44 - História de uma Gaivota e do Gato que a ensinou a voar
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Zorbas desceu até à cave indicada. Procurou atrás da arca e viu que na
parede havia um buraco por onde podia passar.
Afastou as teias de aranha e introduziu-se no mundo das ratazanas.
Cheirava a humidade e a imundície.
- Segue os canos do esgoto - chiou uma ratazana que não conseguiu
ver. Obedeceu. À medida que avançava arrastando o corpo, sentia que
a pele se lhe impregnava de pó e lixo.
Foi penetrando nas trevas até chegar a uma câmara de esgoto apenas
iluminada por um débil feixe de luz diurna. Zorbas achou que estava
debaixo da rua e que o feixe de luz se escoava pela tampa do esgoto. O
lugar era pestilento, mas era suficientemente alto para se poder levantar
sobre as quatro patas. Pelo centro corria um canal de águas imundas. Viu
então o chefe das ratazanas, um grande roedor de pele escura, com o
corpo cheio de cicatrizes que se entretinha passando , uma garra pelos
anéis do rabo.
- Olha, olha. Vejam quem nos visita. O gato gordo - chiou o chefe das
ratazanas.
- Gordo! Gordo! - gritaram em coro dúzias de ratazanas de quem
Zorbas só conseguia ver os olhos vermelhos.
- Quero que deixem em paz o passarito - miou ele energicamente.
- Com que então os gatos têm um passarinho. Eu sabia.
Sabem-se muitas coisas nas cloacas. Dizem que é um passarinho
saboroso. Muito saboroso. Hi hi, hi! - chiou o chefe das ratazanas.
- Muito saboroso! Hi, hi, hi! - repetiram em coro as outras ratazanas.
- Esse passarito está sob a proteção dos gatos - miou Zorbas.
- Vão comê-lo quando crescer? Sem nos convidarem. Egoístas! -
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