Page 39 - História de uma Gaivota e do Gato que a ensinou a voar
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- Espero que não estejas doente, Zorbas. É a primeira vez que não
corres quando te abro uma lata. Que estás tu a fazer sentado nesse vaso?
Até parece que estás a esconder alguma coisa. Bem, até amanhã, gato
maluco.
E se lhe tivesse vindo à ideia espreitar para debaixo do vaso? Só de
pensar nisso sentiu uma fraqueza na barriga e teve que correr para o
caixote.
Ali estava ele, de rabo todo empinado, sentindo um grande alívio e
pensando nas palavras do humano.
"Gato maluco,". Era o que lhe tinha chamado. "Gato maluco".
Talvez tivesse razão, porque o mais prático teria sido deixá-lo ver a
gaivotinha. O amigo teria pensado então que a sua intenção era comê-la
e tê-la-ia levado para cuidar dela até crescer. Mas ele tinha-a escondido
debaixo de um vaso. Era um gato maluco?
Não. De maneira nenhuma. Zorbas seguia rigorosamente o código de
honra dos gatos do porto. Prometera à agonizante gaivota que ensinaria
a cria a voar, e assim havia de fazer. Não sabia como, mas havia de o
fazer.
Estava Zorbas a tapar conscienciosamente os seus excrementos quando
o grasnar assustado da gaivotinha o fez tornar à varanda.
O que viu fez-lhe gelar o sangue.
Os dois gatos malvados estavam estendidos junto da gaivotinha,
abanavam o rabo de excitação e um deles segurava-a com uma manápula
em cima da rabadilha. Por sorte estavam de costas e não o viram chegar.
Zorba contraiu todos os músculos do corpo.
- Quem diria que encontraríamos um pequeno-almoço tão bom,
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