Page 34 - História de uma Gaivota e do Gato que a ensinou a voar
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Todas as manhãs, durante as visitas do amigo, Zorbas ocultara o ovo


                no meio de uns vasos da varanda, para poder assim dedicar uns minutos

                àquele bom tipo que lhe mudava a areia do caixote e lhe abria latas de


                comida.  Miava-lhe  agradecido,  esfregando-Lhe  o  corpo  contra  as

                pernas, e o humano ia-se embora repetindo-lhe que era um gato muito

                simpático. Mas naquela manhã, depois de o ver passar o aspirador pela


                sala e pelos quartos de dormir, ouviu-o dizer:

                  -  E agora a varanda. Entre os vasos é onde se junta mais lixo.


                  Ao ouvir o estoiro de um fruteiro a partir-se em mil pedaços, o amigo

                correu para a cozinha e gritou da porta:


                  - Tu endoideceste, Zorbas? Olha o que fizeste! Sai já daqui, gato idiota!

                Só faltava que espetasses um estilhaço de vidro nas patas.


                  Que  insulto  tão  imerecido!  Zorbas  saiu  da  cozinha  fingindo  uma

                grande vergonha, de rabo entre as pernas, e trotou para a varanda.


                  Não  foi  fácil  fazer  rolar  o  ovo  para  debaixo  de  uma  cama,  mas

                conseguiu-o, e ali esperou que o humano acabasse a limpeza e se fosse

                embora.


                  Ao entardecer do dia número vinte, Zorbas dormitava, e por isso não

                percebeu que o ovo se movia, como se quisesse pôr-se a rolar pelo chão.


                  Acordou com umas cócegas na barriga. Abriu os olhos e não pôde

                deixar de dar um salto quando viu que, por uma greta do ovo, aparecia e


                desaparecia uma pontinha amarela.

                  Zorbas  pegou  no  ovo  entre  as  patas  da  frente  e  viu  assim  como  a

                avezinha dava picadas até abrir um buraco por onde enfiou a diminuta


                cabeça branca e húmida.


                  -  Mamã! - grasnou a gaivotinha.





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